O Estado de S. Paulo
A General Motors vai suspender por dois meses um turno de trabalho na fábrica do Vale do Paraíba (SP) e colocar 600 trabalhadores em lay-off (suspensão temporária de contratos). O motivo é a falta de componentes para a produção, especialmente eletrônicos. É a segunda planta do grupo a adotar a medida.
O mesmo ocorrerá em Gravataí (RS), onde trabalhadores entraram em férias coletivas ontem e, na sequência, uma parte deles ficará em lay-off. A Honda também suspendeu ontem a produção em Sumaré (SP) e ficará parada por dez dias.
A GM informou ontem a dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos ter peças para manter a produção em dois turnos só até dia 8. Por isso, quer iniciar o lay-off na segunda-feira, com retorno previsto para 2 de maio.
O secretário-geral do sindicato, Renato Almeida, afirma que discutirá o tema com trabalhadores hoje, e antecipa que defenderá a medida se a montadora se comprometer com a manutenção do emprego de todos os trabalhadores. A unidade produz a picape S10 e o SUV Traiblazer, além de componentes.
Almeida informa ainda que a GM contratou 300 trabalhadores temporários (por seis meses) no início do ano e estava ampliando a produção, principalmente da S10 – que tem fila de espera nas lojas de até 90 dias –, mas a falta de componentes, em especial semicondutores, atrapalha o ritmo de produção.
O complexo de São José dos Campos emprega cerca de 3,5 mil trabalhadores e já tem um grupo de 368 funcionários em lay-off há quase um ano, com retorno previsto para 8 de abril.
Em nota, a GM repetiu comunicado feito na semana passada sobre Gravataí. “A cadeia de suprimentos da indústria automotiva na América do Sul tem sido impactada pelas paradas de produção durante a pandemia e pela recuperação do mercado mais rápida que o esperado”, informa. “Isso tem o potencial de afetar de forma temporária e parcial nosso cronograma de produção e estamos neste momento trabalhando com fornecedores, sindicato e outros parceiros de negócios para mitigar os impactos gerados por esta situação.”
Na unidade gaúcha, onde é produzido o Onix, carro mais vendido no País, cerca de 4 mil funcionários dos dois turnos de trabalho da GM e das autopeças que atuam dentro do complexo entraram em férias coletivas por 20 dias a partir de ontem. Depois, parte deles ficará em lay-off por dois a cinco meses, informa Valcir Ascari, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí.
Na planta de São Caetano (SP), onde são feitos os modelos Tracker, Onix Joy, Montana e Spin não há conversas, no momento, sobre possíveis paradas.
O problema de falta de chips é global em razão da suspensão de pedidos das montadoras no meio da pandemia em 2020. As fabricantes asiáticas direcionarem vendas para empresas de eletroeletrônicos, enquanto as montadoras retomaram produção em níveis acima do esperado começou a ocorrer o desabastecimento. Várias fábricas já pararam na Europa, EUA, América Latina e na própria Ásia.
A expectativa da Renault é de normalidade no mercado a partir do segundo semestre. A fábrica do grupo no Paraná segue operando, mas o presidente da empresa, Ricardo Gondo, afirma: “Claramente, uma hora teremos problemas.”
Vendas caem
Com atrasos na produção, as vendas de carros novos caíram quase 17% em fevereiro ante igual mês de 2020. Foram emplacados 167,4 mil veículos, incluindo caminhões e ônibus, total 2,1% inferior ao de janeiro, segundo dados preliminares. No bimestre foram vendidas 338,5 mil unidades, queda de 14% em relação a 2020, quando ainda não havia pandemia. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)