Petrobrás lucra R$ 59,9 bilhões no 4º trimestre de 2020

O Estado de S. Paulo

 

A Petrobrás teve lucro líquido de R$ 59,9 bilhões no quarto trimestre de 2020, salto de 635% ante igual período de 2019. O resultado superou projeções de analistas e é o maior para um trimestre desde 2008. Com o resultado, a estatal fechou 2020 no azul, com lucro líquido de R$ 7,11 bilhões.

 

Antes da crise causada pelas críticas sucessivas do presidente Jair Bolsonaro à política de preços de combustíveis, a Petrobrás registrou lucro líquido de R$ 59,9 bilhões no quarto trimestre do ano passado, salto de 635% ante igual período de 2019, resultado muito acima do esperado por analistas e o maior para um trimestre, pelo menos, desde 2008. No acumulado do ano, a empresa conseguiu um resultado positivo, mas bem menor, de R$ 7,1 bilhões.

 

Com os números divulgados ontem, a petroleira conseguiu reverter o prejuízo dos três primeiros trimestres do ano, apagando as perdas causadas pela pandemia de covid-19, que parou a economia e derrubou a demanda por petróleo.

 

Foi o último balanço financeiro da gestão de Roberto Castello Branco. Após as críticas de Bolsonaro, iniciadas na semana passada, o governo federal indicou o general da reserva Joaquim Silva e Luna – que já comandou a Itaipu – para substituir o executivo no comando da Petrobrás.

 

No balanço, Roberto Castello Branco classificou o resultado como excepcional para o ambiente desafiador vivido em 2020. “Entregamos nossa promessa (de recuperação)”, afirmou. O executivo, porém, não fez referência à sua saída da companhia, que deve acontecer em 20 de março.

 

O nome de Silva e Luna ainda precisa passar pelo crivo do conselho de administração da estatal – no entanto, a mudança deve ser concretizada. Nos últimos dias, as ações da estatal passaram por um período de forte volatilidade na Bolsa paulista. Economistas e ex-aliados do governo chegaram a afirmar que o movimento, resposta direta do presidente à pressão dos caminhoneiros, seria o fim da fase liberal do governo federal.

 

As projeções de cinco equipes de análise do mercado financeiro consultados pelo Estadão/broadcast apontavam para uma média de R$ 11,4 bilhões de lucro no quarto trimestre. O resultado muito acima do esperado poderá servir para o executivo defender sua gestão, marcada pelo ajuste financeiro. Em 2020, a dívida total foi reduzida em US$ 11,6 bilhões, para US$ 75,5 bilhões. A dívida líquida somou US$ 63,2 bilhões no fim de 2020, queda de US$ 15,7 bilhões ante o fim de 2019.

 

Reversão de provisões

 

No quarto trimestre, o lucro foi puxado, principalmente, por reversões de baixas contábeis que foram feitas por causa da crise causada pela covid-19, mas puderam ser desfeitas na esteira da retomada da economia mundial.

 

A receita líquida cresceu 6% ante o terceiro trimestre, por causa da alta nas cotações do barril de petróleo, “aliada à maior demanda por geração termoelétrica, que levou ao aumento das vendas de energia elétrica, gás natural e óleo combustível”, diz o relatório divulgado pela Petrobrás.

 

No entanto, as reversões de baixas contábeis pesaram mais, somando R$ 31 bilhões no quarto trimestre. Pelas normas de contabilidade seguidas pelas companhias abertas, as empresas devem, periodicamente, ajustar o valor de seus ativos, no balanço financeiro, conforme diversos parâmetros. Quando essas contas apontam para redução no valor dos ativos, é preciso cortar o lucro. Por outro lado, quando apontam alta nos valores, o lucro cresce.

 

A crise causada pela covid-19 levou várias companhias a registrarem baixas contábeis. As feitas pela Petrobrás nos primeiros meses da pandemia usaram entre os parâmetros projeções de que as cotações do petróleo ficariam na casa dos US$ 25 em 2020. Nessas contas, a estatal foi mais conservadora do que suas concorrentes, segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

 

Porém, a recuperação puxada pela China impulsionou a retomada nos preços do barril a partir de maio. O movimento continuou neste início de 2021 – o preço do barril usado como referência pela Petrobrás, negociado em Londres, hoje é negociado por cerca de US$ 65.

 

Com o conservadorismo dos cálculos, apenas no primeiro trimestre, a Petrobrás registrou baixas de US$ 13,4 bilhões, por causa de projetos que teriam deixado de ser viáveis com a queda do barril. Foi o principal motivo do prejuízo de R$ 48,5 bilhões nos três primeiros meses do ano, início da pandemia. Já no terceiro trimestre de 2020, com a recuperação das cotações do petróleo, a companhia começou a reverter as baixas, acelerando o ritmo de reversões no quarto trimestre.

 

“Tivemos desempenho excepcional em 2020 em ambiente desafiador”, Roberto Castello Branco presidente da Petrobrás. (O Estado de S. Paulo/Fernanda Nunes, Denise e Luna Vinicius Neder)