O Estado de S. Paulo
A recuperação do mercado de trabalho pode estar perdendo ritmo. É uma conclusão possível da evolução de indicadores calculados pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV) quando comparados com outras pesquisas da instituição. O objetivo dos indicadores é indicar os rumos desse mercado. No momento, eles não são muito animadores.
O Indicador Antecedente de Emprego (IAEMP) – que acompanha a evolução do nível de emprego no País – caiu 2,2 pontos em janeiro, para 83,5 pontos. A média do trimestre móvel terminado em janeiro caiu 0,5 ponto, para 84,5 pontos, interrompendo a tendência de alta iniciada em julho.
Para o economista do IBRE/FGV Rodolpho Tobler, a queda sugere que a melhora do mercado de trabalho perdeu ritmo. “A provável desaceleração da atividade econômica no primeiro trimestre e o elevado nível de incerteza ainda não permitem que seja possível imaginar uma melhora desse indicador no curto prazo.”
Já o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD) – que quanto mais alto indica desemprego maior, e vice-versa – cedeu 3,8 pontos em janeiro, para 98,8 pontos. Mas em médias móveis trimestrais mostrou alta de 0,8 ponto, para 100,3 pontos.
Essa variação discrepante e o fato de o indicador estar em nível muito alto recomendam cautela na avaliação da queda em janeiro. É preciso aguardar os próximos resultados, recomenda Tobler, para ter certeza de que houve uma inversão de tendência. “Mas o fim dos programas do governo (de pagamento de auxílio emergencial, entre outros), a dificuldade que alguns setores ainda encontram na recuperação e a piora dos números da pandemia ainda não sugerem uma expectativa positiva para os próximos meses.”
Dos sete componentes do IAEMP, cinco tiveram queda, com destaque para aqueles que mostram a situação presente na indústria e nos serviços, com recuo, respectivamente, de 8,3 e 6,9 pontos.
Já no ICD, houve piora em todas as quatro faixas de renda familiar. Esse indicador procura captar a percepção das famílias sobre o mercado de trabalho, mas não reflete necessariamente diminuição da procura de emprego motivada por desalento. A classe familiar com renda entre R$ 4,8 mil e R$ 9,6 mil foi a que mais contribuiu para o resultado. (O Estado de S. Paulo)