Portal Veja
O mundo todo foi pego de surpresa pelo novo coronavírus em 2020, e no setor automotivo não foi diferente. A expectativa no m de 2019 era de crescimento na casa dos 10% para as montadoras, mas a pandemia veio e varreu para longe todo o otimismo do setor para o ano. As fábricas chegaram a praticamente paralisar a produção no mês de abril, e o consolidado de 2020 não poderia ter passado sem grande impacto: queda de 31,6% na produção ante o ano anterior, o menor nível desde 2003, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Outro indicativo de que 2020 foi um ano para se esquecer é o número de exportações, o menor desde 2002. Foram apenas 324,3 mil unidades exportadas, muito por conta da crise enfrentada pela Argentina e pelo alto custo da produção brasileira. Para se ter uma ideia, a receita de 7,4 bilhões de dólares representou menos da metade do que se exportou em 2017 (15,9 bilhões de dólares). No emprego, o setor encerrou 2020 com 120.538 trabalhadores, uma ligeira queda de 4% na comparação com 2019, mas a perspectiva para 2021 é de novas contratações, mesmo com um cenário obscuro para os próximos meses.
Para 2021, as projeções apontam um crescimento de 25% na produção, ultrapassando a marca dos 2,5 milhões de veículos produzidos no país. Há de se ressaltar que o patamar atual é baixo e, portanto, o percentual pode enganar e passar a falsa sensação de uma recuperação mais robusta. Prova disso é que, mesmo que as expectativas da Anfavea se confirmem, a produção de veículos em 2021 ainda caria 422 mil unidades aquém dos números de 2019. São esperados também 2,36 milhões de emplacamentos, contra os 2,05 milhões de 2020.
A expectativa é de recuperação dos postos diretos e indiretos de trabalho, mas é preciso lembrar que as fábricas brasileiras têm capacidade técnica de produzir até 5 milhões de unidades por ano, o dobro do esperado para 2021. “Imaginamos um impacto positivo no trabalho, mas as empresas provavelmente serão cuidadosas na hora de contratar. É possível que contratem temporariamente num primeiro momento para depois efetivar, com a certeza de que a demanda veio para ficar”, destaca Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.
Por outro lado, além do término do programa de suspensão de contratos – amplamente utilizado pela indústria -, a produção está altamente robotizada, ou seja, a gura do trabalhador está se fazendo menos necessária. “Mesmo com a automatização, veremos a retomada de alguns postos diretos e indiretos, isso acontece porque as vendas estão próximas do período pré-pandêmico”, analisa Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria automotiva Jato Dynamics. As contratações, entretanto, dependem da recuperação do mercado como um todo. “Algumas montadoras podem demitir e outras se recuperarem, isso é normal. O que vale é o saldo, e ele deve ser positivo no ano.” (Portal Veja/Diego Gimenes)