O Estado de S. Paulo/Broadcast+
O mercado de carros novos, que lentamente se levantava do baque sofrido na última crise, não ficou imune à pandemia e perdeu em 2020 tudo o que havia recuperado nos últimos três anos. Faltando apenas os resultados de hoje (30) e de amanhã (31) para fechar o ano, as concessionárias acumulam vendas de 1,93 milhão de veículos, somados automóveis e comerciais leves, e devem encerrar 2020 com queda de 26% ante o ano anterior. É um retrocesso similar ao de 2015, primeiro ano da recessão passada, em que houve recuo de 25,5%. E esse baque pode demorar a ser superado: se as previsões das montadoras estiverem corretas, a indústria automotiva precisará de três anos para se reerguer. Ou seja, os volumes de 2019 só devem voltar em 2023.
Marcha lenta. Após o tombo de 2015, o setor enfrentou uma retração de 20% em 2016, saindo, no acumulado daquele “biênio para esquecer”, dos 3,3 milhões de veículos leves vendidos em 2014 para 1,98 milhão, à época o menor nível em 10 anos. A recuperação começou em 2017 e houve três anos seguidos de expansão moderada, chegando a 2019 com 2,6 milhões de unidades vendidas.
Por água abaixo
Esta sequência deu às montadoras a esperança de retomar em 2020 a marca de 3 milhões de carros emplacados. Elas não contavam, contudo, com a pandemia, que fez o sonho virar pesadelo e levou o mercado de volta a níveis inferiores aos 2 milhões.
Faltou carro
A partir de junho, com a reabertura das concessionárias após o período mais restritivo da quarentena, o mercado iniciou uma arrancada. Mas surgiu um novo problema: a falta de carros – em especial para atender às locadoras, que formaram longa fila de espera – causada por uma produção limitada pela insuficiência de peças e pelos protocolos de prevenção à covid-19, que reduziram o número de operários trabalhando simultaneamente nas linhas.
GM sem peças
Entre as montadoras que mais sofrem com a falta de componentes, a General Motors (GM) foi obrigada a parar por um dia a produção em segundo turno da picape S10 em São José dos Campos (SP), conforme informa o sindicato dos metalúrgicos da região. A paralisação aconteceu uma semana antes do recesso da fábrica entre o Natal e o Ano-Novo.
O lado bom
O mercado acompanha a recuperação gradual da economia ao longo do segundo semestre e melhorou em dezembro ante novembro. O último mês de 2020 tem uma média de 11 mil carros vendidos por dia, alta de 2,9% na comparação com o mês anterior, mas ainda 12,2% abaixo do nível registrado em dezembro de 2019. Até ontem, foram emplacados 220,4 mil veículos leves.
Ranking
Por mais um ano, a GM deve liderar a lista de marcas que mais vendem no Brasil, impulsionada principalmente pelo Onix, automóvel mais vendido do País. Mas a montadora norte-americana perdeu um pouco de espaço e viu sua participação de mercado cair de 17,9% para 17,3%. A Volkswagen, por sua vez, encostou e saiu de 15,6% para 17%. A Fiat, que fecha o pódio, também saltou de um ano para outro, saindo de 13,7% para 16,5%. Os números definitivos serão divulgados na semana que vem pela Fenabrave, federação que reúne as concessionárias, e incluirá também os dados de veículos pesados e motocicletas. (O Estado de S. Paulo/Broadcast+/André Ítalo Rocha e Eduardo Laguna)