Portal Exame
Após a Mercedes-Benz anunciar oficialmente o fim da produção de automóveis no Brasil, a Audi deve ser a próxima a desativar sua linha no Paraná. O motivo é basicamente o mesmo: o fim dos incentivos para fabricação local de carros de luxo.
As montadoras premium – Audi, Mercedes e Jaguar Land Rover – se instalaram no país logo após o anúncio do Inovar-Auto, programa do governo federal que previa diversas regras para o setor. A principal delas elevava em 30 pontos percentuais o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros importados.
Instituído no final de 2011, o programa tinha data para acabar: final de 2017. No entanto, a promessa era de uma nova política industrial que abarcasse também as fabricantes locais de pequenos volumes – justamente as marcas de luxo.
Como a majoração do IPI era extremamente significativa, o programa praticamente inviabilizou as vendas de modelos de entrada dessas marcas, que estavam em franca expansão no país – em meio ao boom econômico brasileiro. À época, o setor projetava um mercado potencial de 100.000 unidades por ano no país. Mas depois de muitos altos e baixos na década, o segmento encerrou 2019 com pouco mais de 56.000 unidades vendidas.
Nesse período todo, o dólar se valorizou muito, prejudicando não só a importação, mas também a produção local: o volume de peças importadas das montadoras de luxo é bem maior do que as marcas de grandes volumes, portanto, o custo das operações só cresceu.
Na fábrica da Mercedes em Iracemápolis, interior de São Paulo, a montadora estava produzindo o sedã Classe C e o SUV GLA. A capacidade instalada era de 20.000 unidades por ano.
Na linha da Audi no Paraná, compartilhada com a Volkswagen, só resta agora o sedã A3, que tem capacidade aproximada de 16.000 unidades anuais. A produção acaba no final deste mês de dezembro.
Em entrevista recente à EXAME, Johannes Roscheck, presidente da Audi do Brasil, afirmou que a montadora aguarda uma “definição” do governo federal sobre as regras para fabricantes de pequenos volumes no país no bojo da nova política industrial do setor, o Rota 2030.
“Perguntamos ao governo se há interesse na produção local. Não estamos pedindo subsídios, queremos regras claras”, disse o executivo na ocasião.
Ele pontuou que é preciso escala para produção local. “Com a pandemia, as prioridades são outras, mas essa é uma discussão que vem sendo colocada à mesa bem antes do coronavírus.”
Em nota, a Audi informa que continua dialogando com o governo para o futuro da linha da marca no país.
Conforme apurou a EXAME com pessoas próximas às tratativas, a discussão segue paralisada. Hoje, não há prioridade para o tema, com tantos outros problemas fiscais que o país enfrenta.
No acumulado de janeiro a novembro, a Audi vendeu apenas 1.748 unidades do A3. Para trazer novos modelos, seria necessário um novo investimento na planta, o que no curto e médio prazo parece improvável diante de tantas incertezas acerca da política industrial.
Para Andressa Melo, coordenadora de inovação da consultoria especializada FI Group, muitas empresas do setor estão revisando seus projetos devido à crise gerada pela pandemia. “Esta é uma discussão preocupante, porque todo investimento precisa de um grande planejamento. Sem isso, fica difícil viabilizar novos aportes”. (Portal Exame/Juliana Estigarribia)