Carro elétrico movimenta construtoras

O Estado de S. Paulo

 

Apesar de a frota brasileira de carros elétricos ainda ser pequena, o crescimento das vendas chama a atenção. Estima-se que, até o final de 2020, estejam circulando 41,4 mil exemplares no País, segundo dados da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) – 60% a mais do que em 2019 e três vezes mais do que em 2018.

 

Com a Lei Municipal 17.366, sancionada em março pelo prefeito Bruno Covas, que exige que os novos edifícios residenciais e comerciais prevejam soluções para recarga de veículos, o que antes parecia uma realidade futurista e distante começa a fazer parte da paisagem de São Paulo.

 

No último mês, 70% das vendas da startup de eletromobilidade urbana Tupinambá, tanto de hardware para a fase de projeto da infraestrutura quanto de software, com aplicativo para controle do consumo individualizado de energia, foram para construtoras. “A disrupção ocasionada pela mobilidade elétrica chega mais cedo para alguns do que para outros”, diz o sócio Pedro de Conti. “E essa é a realidade para o mercado de construção civil que, no final do dia, precisa estar ao menos uns cinco anos à frente, já que os prédios que estão sendo construídos atualmente serão lançados em um momento em que a realidade do carro elétrico já será outra.”

 

Mesmo que a determinação se aplique apenas a projetos imobiliários protocolados a partir da data em que a lei entrou em vigor, condomínios antigos também buscam soluções para oferecer possibilidade de carregamento. Um exemplo é o da Auxiliadora Predial, que administra 3,5 mil condomínios em São Paulo e Porto Alegre.

 

O sócio-diretor Christian Voelcker calcula que haja por volta de 80 proprietários de carros elétricos nesses prédios. Ele mesmo comprou um quatro anos atrás. A experiência pessoal contribuiu para que firmasse uma parceria com a Zletric, especializada em energia para recarga. Ao todo, já foram instaladas 20 vagas verdes sem custo para os condomínios.

 

“A empresa instala um ponto de carregamento, o morador se cadastra no aplicativo e o consumo é cobrado diretamente dele, sem que o condomínio tenha que repassar ou dividir a conta com outros moradores”, diz.

 

Na consultoria que a administradora presta a construtoras, a questão também entra em pauta. “O produto deles só faz sentido se o uso for apropriado depois”, fala Voelcker. “O ideal é não ter apenas uma, mas duas vagas com tomada. No futuro, não vai ter só um carro elétrico por prédio e o único pânico nesse caso é chegar em casa e não ter vaga para recarregar.”

 

Outro que levou a experiência pessoal com o carro elétrico para seus empreendimentos é Alberto Lucio, da incorporadora Lucio. “Quando vivi em São Francisco (EUA), onde os elétricos já são uma realidade faz tempo, me dei conta do tamanho da economia”, diz, referindo-se ao custo-benefício do veículo a médio e longo prazos.

 

O prédio em que ele vive não possuía carregador, mas agora o ponto está em construção. Além dele, que é dono de um carro híbrido, há outros quatro moradores com carros elétricos. “O investimento é um pouco mais caro, mas acaba nivelando com o tempo porque a conta de energia gira em torno de R$ 200 por mês”, conta. “O meu carro roda 80 km sem precisar de recarga. Eu vou e venho do trabalho a semana toda.”

 

Ele cita ainda os benefícios para o ambiente, já que esses modelos reduzem os níveis de poluição e não emitem ruído.

 

Lançamentos

 

Enquanto o prédio em que o empresário mora é adaptado para receber o ponto de carregamento, os lançamentos da incorporadora Lucio já estão nascendo com a facilidade implantada. É o caso do Prizma Paraíso, na zona sul, que entregou as chaves em novembro.

 

São três vagas por apartamento, das quais uma vem com conector para carros elétricos. “Essa é uma necessidade que já vínhamos identificando há um tempo entre nossos clientes, que têm um poder aquisitivo um pouco maior”, diz ele.

 

Mais um edifício que já foi projetado dentro desse contexto é o Inside Vila Nova Conceição, da Libcorp, que terá tomadas para carros elétricos com cobrança individualizada, além de sistema de portaria inteligente com espaço para delivery homologado pelos Correios, lavanderia equipada e espaço de coworking com wi-fi.

 

Na Vila Madalena, outro bairro em que as tendências imobiliárias mais arrojadas chegam rápido, a Paes & Gregory também está prestes a entregar um empreendimento no padrão. O Ybyrá, que fica pronto em janeiro, terá uma vaga com torre de carregamento à disposição dos moradores – e a mesma tecnologia estará presente em todos os lançamentos futuros da incorporadora. (O Estado de S. Paulo/Bianca Zanatta)