A Tarde
A capital baiana está na rota dos veículos elétricos, com a criação do VEC (sigla de veículo elétrico compartilhado), do Itaú, anunciado no início deste mês. O banco quer utilizar a expertise do compartilhamento de bicicletas em cinco capitais do país, incluindo Salvador. O usuário, que não precisa ser correntista, desbloqueia o veículo pelo aplicativo e o devolve em uma das estações. O projeto-piloto começa em 2021 em São Paulo.
“Queremos acompanhar de perto as tendências da sociedade, e essa nova solução de mobilidade urbana servirá como alternativa ou complemento ao uso de outros modais. Estamos colocando nossa expertise financeira a serviço das pessoas, num modelo em que contaremos com parcerias estratégicas com montadoras, locadoras e demais players do segmento”, conta Rodnei Bernardino de Souza, diretor do Itaú Unibanco.
Nessa primeira fase, os veículos serão Jaguar I-Pace, BMW i3 e JAC iEV40. Não há preços definidos, mas o banco prevê uma tarifa inicial e cobrança por minutos.
Fortaleza pioneira
No Nordeste, um carsharing da prefeitura da capital do Ceará existe desde 2016, o Vamo Fortaleza. Davy Nascimento, assessor de comunicação da Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP) da capital cearense, informa que este foi o primeiro sistema público de carros 100% elétricos do Brasil. “Surgiu como mais uma alternativa de transporte e mobilidade urbana sustentável para a população. Até novembro de 2019, o sistema utilizava carros dos modelos BYD e6 e o compacto Zhidou EEC L7e-80. Já em dezembro de 2019, a prefeitura reestruturou o sistema de carros elétricos compartilhados da plataforma com um novo modelo, mais espaçoso e robusto, alinhando-se ao padrão de demanda dos usuários”, explica Nascimento.
O projeto agora utiliza 15 veículos no total, sendo 10 novos Renault Zoe, juntamente com cinco carros BYD e6, que já operavam no sistema de compartilhamento em Fortaleza. Ambos são 100% elétricos, oferecem cinco lugares para usuários e bom espaço de bagagem. O sistema conta com 13 estações (onde é possível retirar e devolver veículos) e quatro vagas (que possibilitam apenas a devolução de veículos).
A quantidade de estações de compartilhamento depende da densidade populacional, comercial e de serviços, além da integração com outros modos de transporte. “Busca-se sempre regiões que sejam muito atrativas de deslocamentos, com potencial de gerar e de atrair muitas viagens. Locais onde circulam muitos pedestres, com grande quantidade de estabelecimentos comerciais e com oferta de diversos modos de transporte, como ônibus, táxis, bicicletas compartilhadas, são priorizados, pois a demanda e a oferta são maiores”, conta Nascimento.
Nas contas da prefeitura até outubro, foram feitos oito mil deslocamentos e 250 km rodados sem a emissão de poluentes, o que resultou em uma economia de mais de 12,5 toneladas de dióxido de carbono (CO2). O sistema conta com 4.900 usuários cadastrados. Uma empresa patrocinadora, a Hapvida Saúde, adquire e mantém os custos dos veículos, no serviço operado pela Serttel. Com a pandemia neste ano, após cada utilização, equipes da Serttel realizam a assepsia dos veículos, higienizando as superfícies, como bancos, maçanetas, acessórios, volantes e alavancas, entre outros equipamentos, além da rotina de limpeza de lavagem e aspiração.
Quem for a Fortaleza e quiser utilizar o serviço deve fazer cadastro no site www.vamofortaleza.com. Os custos vão de R$ 15 por 30 minutos até R$ 35 por três horas. Entre três e cinco horas a tarifa é de R$ 35, com acréscimo de R$ 0,30 por minuto adicional. A partir de cinco horas de uso, o custo é de R$ 71, com acréscimo de R$ 0,50 por minuto adicional.
Uso em vez de posse
A cultura do compartilhamento de veículos existe desde os anos 40 em países da Europa e posteriormente nos EUA. Mas foi na segunda metade dessa década que virou febre na mobilidade do Brasil: graças à tecnologia e à conectividade, aplicativos nos smartphones facilitam que pessoas dividam patinetes, bikes, frotas elétricas, motos e automóveis particulares, entre outros.
É o chamado uso em troca da posse. Usuários, em geral mais jovens, não veem sentido em ter um carro. O intermodal virou rotina conforme as necessidades do momento: ao descer do ônibus ou do metrô perto de casa ou do trabalho, vale a pena alugar a bicicleta ou o patinete deixado nas ruas para chegar ao destino. Surgiram empresas especializadas no compartilhamento de micromobilidade, e a adesão explodiu nas grandes cidades.
A pandemia da Covid-19, contudo, jogou repentinamente um balde d’água fria nessa mentalidade. Nem todos os players resistiram a meses de quarentena e às incertezas que ainda rondam as soluções compartilhadas, principalmente quem oferecia soluções de micromobilidade.
As empresas que tiveram fôlego para suportar o confinamento já voltam a respirar aliviadas, com as tendências que convergem para o aumento de interesse do público pelo transporte individual e a real necessidade de ter um veículo. Nesse sentido, o conceito do “car as a servisse” ganha força em um cenário de flexibilização da pandemia, e o compartilhamento volta a ser uma solução viável para bens mais valiosos, como carros, cujo valor do serviço sustenta higienizações a cada uso.
Tendência
Entre as empresas que utilizam o sistema de carsharing, há ainda uma subdivisão de quem aluga modelos elétricos, uma solução para o segmento que tem veículos a preços elevados e ainda receio do consumidor quanto à desvalorização, manutenção, duração das baterias e revenda.
Em Salvador, quatro concessionárias da Toyota oferecem, por meio da empresa e aplicativo Kinto Share, o compartilhamento de modelos híbridos das marcas Toyota e Lexus por horas ou dias. Um Corolla Altis Premium Hybrid, por exemplo, tem diárias a partir de R$ 290, limitadas a 30 dias.
Outras iniciativas tentam ganhar força ou pelo menos resistir enquanto a pandemia não passa. Ainda restrita às cidades de São Paulo, São José dos Campos, Campinas e nos aeroportos de Guarulhos e Viracopos, todos em São Paulo, a Beepbeep, que existe há pouco mais de um ano, acredita em um modelo sustentável: o aluguel de veículos elétricos one way (não é preciso devolvê-lo no mesmo ponto que foi retirado).
Para isso, investiu em parcerias para chegar a 60 estações (com planos de atingir 100 até o fim deste ano), onde ficam as bases dos veículos para higienização e recarga. São hotéis, supermercados, condomínios corporativos e shopping centers, que recebem os 35 veículos elétricos da frota, hoje composta por Renault Zoe e JAC iEV40. “Até dezembro, nosso objetivo é dobrar a quantidade”, afirma André Fauri, fundador e CEO da Beepbeep.
Para se ter ideia, até seis horas a Beepbeep cobra R$ 0,60 por minuto, valor que cai para R$ 0,12 no plano de 48 horas. Um deslocamento de uma hora, por exemplo, custa R$ 43,90, e de um dia, R$ 195, incluindo seguro. Há ainda uma taxa de R$ 7,90 para desbloqueio.
Fauri diz que aos fins de semana há muita procura por turistas que chegam a São Paulo de avião de outras cidades e buscam um carro para circular, além da autonomia de fazer o aluguel sem contato humano. “É tudo muito rápido, tudo feito pelo nosso aplicativo. É como fazer um aluguel de um patinete ou bicicleta, com cadastro do cartão de crédito, uma selfie e uma foto da CNH. O cadastro é validado em poucos minutos, sem contato com outras pessoas”, explica o CEO.
Carro de aplicativo feito sob medida
A Didi Chuxing (DiDi), dona da 99 no Brasil, apresentou o D1, primeiro veículo elétrico do mundo feito sob medida para atender ao mercado de transporte de aplicativo. Desenvolvido em parceria com a BYD, os D1 serão lançados nos próximos meses em cidades chinesas. As principais vantagens que diferenciam o D1 dos modelos de carros tradicionais projetados para motoristas-proprietários são segurança extra, eficiência operacional e experiência do passageiro/motorista.
“A mobilidade compartilhada inteligente é a solução ideal para o futuro do transporte. Com o desenvolvimento contínuo da direção autônoma e da tecnologia de IA, as pessoas poderão desfrutar de uma melhor experiência de viagem por meio da mobilidade compartilhada”, diz Cheng Wei, fundador e CEO da DiDi, referindo à sua visão de mobilidade para os próximos 10 anos.
“Decidimos focar nossos esforços no próprio veículo. A DiDi integrou as demandas de centenas de milhões de usuários no design do D1, a partir da nossa inteligência de dados e dos feedbacks de usuários. Nossa equipe de design analisou quase 10 milhões de sugestões e feedbacks, os resultados da pesquisa de mais de 10 mil motoristas e passageiros, e dezenas de workshops. Existem muitas histórias impressionantes para contar”, ressalta Jean Liu, presidente da DiDi. (A Tarde/Lúcia Camargo Nunes)