Diário do Transporte
Matéria do jornal The New York Times (NYT) deste sábado, 14 de novembro de 2020, mostra como o uso do hidrogênio na mobilidade está muito perto de se tornar uma realidade nos Estados Unidos.
O jornal cita o estado da Califórnia, que já apresenta dezenas de ônibus a hidrogênio rodando pelas ruas das cidades, enquanto postos de abastecimento cada vez maiores estão surgindo de San Diego a San Francisco, financiados pelos governos estadual e federal.
A reportagem cita a redução dos custos de produção e transporte do gás, o que tem levado a Califórnia a estabelecer metas ambiciosas para eliminar os veículos movidos a combustíveis fósseis em favor de baterias e hidrogênio.
“Grandes empresas automotivas e de energia, como Toyota Motor e Royal Dutch Shell, comprometeram-se a fornecer mais carros e postos de abastecimento”, diz o NYT.
“Nos ciclos anteriores, sempre havia algo faltando”, disse Matthew Blieske, gerente global de produtos de hidrogênio da Shell. “Faltava uma política ou a tecnologia não estava totalmente pronta ou as pessoas não levavam muito a sério a descarbonização. Não vemos mais essas barreiras”, afirma o executivo ao jornal americano.
A expectativa de alguns executivos do setor de energia é que o investimento em hidrogênio seja acelerado sob a gestão do presidente eleito Joseph R. Biden Jr.
Biden fez da mudança climática parte importante de sua campanha e propôs um plano de US$ 2 trilhões para lidar com o problema, cerca de 11 trilhões de reais.
Futuro dos veículos pesados
Toyota, Hyundai, Daimler e várias outras montadoras estão apostando em carros e caminhões a hidrogênio. E a Shell está construindo estações de hidrogênio na Europa e Califórnia.
O melhor uso para o hidrogênio, alguns especialistas argumentam, está no abastecimento de caminhões, ônibus e aviões.
Isso ocorre porque o combustível embala a energia em um pacote menor e mais leve do que a geração atual de baterias dos veículos elétricos, deixando mais espaço para carga e passageiros.
A Hyundai, por exemplo, está prestes a apresentar o primeiro caminhão a célula de combustível pesado produzido em massa nos próximos meses.
Já a Toyota, que tem testado células de combustível em caminhões no porto de Los Angeles desde 2017, recentemente disse que desenvolverá caminhões a hidrogênio para a América do Norte.
Perspectivas
Um estudo recente da McKinsey & Company estimou que a economia do hidrogênio poderia gerar US$ 140 bilhões (R$ 740 bilhões) em receita anual até 2030 e produzir 700.000 empregos. O estudo projetou que o hidrogênio poderia atender 14 % da demanda total de energia americana em 2050.
A matéria do NYT afirma que o uso do gás hidrogênio, “a substância mais leve e abundante do universo”, ainda está em sua infância, e a Califórnia está determinada a ser seu berço nos Estados Unidos. Para tanto, o Estado aloca US$ 20 milhões (R$ 109 milhões) em financiamento anual provido pela Comissão de Energia por meio de taxas de licenciamento de veículos movidos à energia limpa.
A Califórnia terá gastado cerca de US$ 230 milhões (R$ 1,25 bilhão) em projetos de hidrogênio até o final de 2023. O estado agora tem cerca de 40 estações de abastecimento, com dezenas de outras em construção. “Embora esses números sejam minúsculos em comparação com os 10.000 postos de gasolina em todo o estado, a autoridades têm grandes esperanças”, afirma o texto.
Com cerca de 7.500 veículos movidos a hidrogênio nas estradas, um programa estadual agressivo de incentivos e subsídios de dólares do mercado de carbono (cap-and-trade) a Califórnia prevê 50 mil veículos leves até o meio da década e uma rede de 1.000 estações de abastecimento do gás até 2030.
A infraestrutura necessária para produzir, transportar e distribuir o gás custará cerca de US$ 10 bilhões (R$ 55 bilhões), de acordo com pesquisadores de hidrogênio da Califórnia, que esperam investimentos privados e governamentais.
Outros estados estão muito mais atrasados. A grande maioria das estações e veículos de abastecimento de hidrogênio do país estão na Califórnia.
Os veículos movidos a hidrogênio são semelhantes aos carros elétricos. Mas, ao contrário deles, que têm grandes baterias, os carros com tanques de hidrogênio e células de combustível transformam o gás em eletricidade. São veículos que reabastecem e aceleram rapidamente e podem percorrer centenas de quilômetros com o tanque cheio. Eles emitem apenas vapor d’água, o que os torna atraentes para as cidades da Califórnia que estão tentando reduzir a poluição e as emissões de gases de efeito estufa.
A reclamação comum no momento, de quem já possui um carro movido a hidrogênio nos EUA, é a escassez de postos de abastecimento. Os proprietários desses automóveis muitas vezes esperam na fila dos poucos locais que existem mas, ao contrário da bateria dos carros elétricos, que podem levar de 45 minutos a várias horas para completar uma carga, os carros a hidrogênio, como os a gasolina, abastecem em menos de 10 minutos e têm autonomia para 300 milhas (cerca de 480 km).
Pelo descrito na matéria do The New York Times, o hidrogênio poderá se juntar em breve à eletricidade como um grande propulsor na nova geração de ônibus e caminhões com zero emissão de poluentes. (Diário do Transporte/Alexandre Pelegi)