Estradão
As encarroçadoras de ônibus reclamam de aumento de 65% no aço e de 40% no alumínio e em espumas para banco. Além da inflação, demora na entrega também preocupa. Por outro lado, o volume de produção dessas empresas continua em queda
As encarroçadoras de ônibus vivem um momento dramático. Além de precisarem lidar com os baixos volumes de produção que despencam mês a mês, estão enfrentando o aumento frenético nos preços dos insumos. O aço, por exemplo, um dos componentes mais usados para a produção de uma carroceria, aumentou 65% nos últimos meses.
Já os preços do alumínio e de espumas avançaram 40%. Em entrevista ao Estradão, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de ônibus, Fabus, Ruben Bisi diz que o aumento do dólar está provocando esse exagero nos preços. Isso porque esses insumos são cotados na moeda norte-americana. “Já estamos acionando o CADE e o Ministério da Economia para que haja uma saída para essa situação”, diz.
Segundo o presidente da Fabus, seria necessário regular o mercado e baixar impostos. “A indústrias desses insumos acabam priorizando mais o mercado externo por causa do dólar alto. O resultado é pouca oferta e muita procura. Isso eleva os valores”, complementa. Além da inflação, o foco nas vendas externas faz, também, faltar material, segundo Bisi. “E também está havendo demora para a entrega desses produtos.”
Encarroçadoras de ônibus não conseguem exportar para principais compradores
A valorização do dólar, na visão de Ruben Bisi, seria uma oportunidade para que as encarroçadoras de ônibus vendessem mais para outros países. E isso ajudaria a mitigar a queda da demanda no mercado interno que despencou desde o início da pandemia do novo coronavírus. Contudo, os principais destinos de exportação dessas empresas estão muito afetados pela pandemia. Alguns países enfrentam situações econômicas graves.
A Argentina, por exemplo, um dos principais compradores do Brasil passa por momento delicado. “Nós não estamos nem conseguindo enviar produtos que já estão pagos. O governo não libera porque não tem caixa”, explica. Segundo o executivo, Peru, Bolívia, Equador e México também estão com suas economias afetadas. Portanto, não há como investir em ônibus. “No Chile, uma das maiores operadoras de transporte está em recuperação judicial. No Peru, pelo menos duas empresas já faliram”, conta Bisi.
Caminho da Escola impede queda ainda maior
Assim como ocorre com as fabricantes de chassis, as encarroçadoras de ônibus também estão conseguindo segurar o ritmo de produção por causa das encomendas do Programa Caminho da Escola. Segundo o presidente da Fabus, o volume de emplacamentos desses ônibus cresce mês a mês desde abril. O aumento dos pedidos vindos do Programa acaba refletindo também no mix de produção. No momento, os urbanos simples e os micro-ônibus são os mais produzidos. Os rodoviários com alto valor agregado voltados para o turismo já quase nem aparecem na lista de pedidos. O mesmo ocorre com os urbanos articulados voltados para o transporte público de grandes cidades.
O Programa Caminho da Escola também está ajudando a amenizar a queda de produção do mercado interno. Em setembro, as indústrias fabricaram 1.538 carrocerias, queda de 8,8% na comparação com o mesmo mês de 2019. Já no acumulado de janeiro a setembro, foram 10.026 unidades. Trata-se de um recuo de 25,5% sobre o mesmo período do ano passado.
Segundo os números da Fabus, o volume de produção de urbanos representou 39,79% em setembro e o de micro-ônibus, 33,54%. Essas são, justamente, as categorias mais requeridas nas encomendas do Caminho da Escola. Enquanto isso, os rodoviários e intermunicipais representaram 15,83% e 10,84% da produção, respectivamente.
Transporte público tem perda de 25% de passageiros
Ruben Bis acredita que uma retomada dos segmentos de urbano e rodoviários está atrelada a duas vertentes. A primeira seria a prorrogação do pagamento de prestações dos clientes que já estão começando a vencer em outubro. “Se isso ocorrer esses frotistas que estão pagando parcelas de ônibus recém-adquiridos ganham mais fôlego. Isso pode ajudar até na decisão de comprar mais veículos”, avalia. A segunda seria a ajuda do governo de R$ 4 bilhões para empresas de transporte que atuam em cidades com mais de 200 mil habitantes. “É uma medida provisória que já foi aprovada pela Câmara dos Deputados. Isso ajudaria a aplacar as perdas”, diz.
A projeção da Fabus é que a produção acumulada de 2020 seja 25% menor do que a do ano passado. “Vamos ficar nessa média de 1.500 ônibus produzidos por mês”, comenta. Ainda assim, a preocupação maior do setor não é a queda do volume de produção, mas a da evasão de passageiros. Segundo o presidente da Fabus, durante a pandemia houve perda de 25% de usuários do sistema de transporte público. (Estradão/Aline Feltrin)