Estradão
Em breve, a Iveco terá novidades no Brasil no segmento de caminhões a gás. A informação é do líder da empresa para a América do Sul, Márcio Querichelli. Em entrevista exclusiva ao Estradão, o executivo diz que a introdução dessa tecnologia no País ainda depende de incentivos do governo e do desenvolvimento de infraestrutura.
Segundo Querichelli, a Iveco aposta fortemente no GNV (Gás Natural Veicular) para redução de gases poluentes por caminhões. Ele diz que a adoção do gás é primeiro passo para rumo às tecnologias que visam nível de zero de emissões. Conforme o Estradão antecipou em julho, Querichelli confirma que há empresários brasileiros interessados em produtos da marca movidos a gás.
O líder da marca italiana reconhece que a Iveco ainda carece de produtos para disputar segmentos importantes do mercado. É o caso do setor de cana-de-açúcar, por exemplo. Mas Querichelli afirma que isso será resolvido. Ele diz ainda que a fabricante trabalha para trazer à região os mais modernos modelos vendidos na Europa, como a linha S-Way.
Caminhão a gás
O Estradão antecipou que um operador logístico está negociando a venda de caminhões a gás da Iveco no Brasil. Quando isso deve ocorrer?
Existem muitas especulações em torno do que a gente chama de Natural Power. Em relação a possíveis negócios no Brasil, nós não temos nada fechado com nenhuma empresa. Mas é óbvio que estamos buscando parcerias. Também há empresas interessadas nessa tecnologia fazendo contato conosco. Por enquanto, não existe nada definido.
Mas quando o caminhão a gás chegar, virá importado de países vizinhos ou a Iveco irá produzi-lo no Brasil?
A gente já começou a produção dos veículos a GNV na planta de Córdoba, na Argentina. A produção está indo muito bem e é um ponto de referência na América Latina para o desenvolvimento dessa tecnologia. Estamos analisando todos os cenários possíveis para entender e definiras estratégias para os próximos meses e mesmo para os próximos anos. Mas, sem dúvida, assim como a Iveco é muito forte na Europa em veículos a GNV e GNL, também viremos com força na região. E em breve vocês ficarão cientes das novidades.
Viabilidade do gás na região
É a curto prazo, então?
O negócio de veículos a gás depende muito de infraestrutura, do marco regulatório em que o governo está trabalhando. E também de incentivos. Então, estamos observando essas questões, principalmente no que se refere ao GNL. O uso de gás natural na forma liquefeita requer infraestrutura muito grande. Isso depende do governo. Mas sua implantação trará muitos benefícios para as empresas e para o ecossistema. Esperamos que as novas medidas entrem em vigor o mais rapidamente possível. Temos o produto, a tecnologia e muita vontade de ajudar o Brasil a se desenvolver na área de combustíveis alternativos.
A ideia é oferecer modelos a GNV e GNL no Brasil?
Temos tanto caminhões a GNV quanto a GNL. Somos líderes na oferta de modelos a GNL na Europa. No caso do GNV, também temos participação bastante expressiva. E, sem dúvida, queremos introduzir as duas tecnologias no Brasil.
Infraestrutura para o gás
A Iveco já têm modelos a gás na Argentina e no Chile. Nesses países, a infraestrutura de distribuição desses combustíveis é mais bem desenvolvida? Em que aspectos esses países estão à frente do Brasil?
A Argentina e o Chile têm infraestrutura que permite a aplicação desse tipo de veículo. Esses países também têm uma condição muito específica no que se refere às dimensões. Na Argentina o veículo GNV funciona muito bem. Tanto que fechamos uma venda bastante expressiva do Stralis (100 unidades importadas da Europa) para aquele mercado. O duto de gás se adequa muito bem às características desses países. O Chile, por exemplo, tem geografia bem linear. É um país propício para esse tipo de veículo. Além disso, o Chile está se desenvolvendo para o uso de combustíveis alternativos.
Portfólio Iveco
É possível expandir o leque de modelos a gás nos distintos segmentos em que a Iveco atua na região? E como o sr. vê o uso dessa tecnologia em ônibus?
A gente planeja entrar com todo o portfólio de veículos que temos na Europa. Devidamente adaptado para o mercado brasileiro e da América Latina. Mas o plano de introdução deve seguir uma lógica. Essa lógica está relacionada à infraestrutura e aos incentivos. O veículo a gás é, em média, de 20% a 35% mais na comparação com um equivalente a diesel. Já o custo operacional é mais baixo e a médio prazo o caminhão se paga. Isso sem falar que o gás é mais amigável para o meio ambiente. A fábrica da Argentina iniciou a produção com o Tector. E os demais modelos vão chegar à medida que o projeto for entrando nos países mencionados. A ideia é viabilizar a produção local do caminhão a gás no Brasil. A intenção é introduzir a produção desses modelos onde já fazemos veículo a diesel. Em algumas semanas, vocês vão ter informações sobre isso.
Viabilizar o GNV no Brasil
A Scania oferece caminhões a gás no Brasil desde 2019. Como a entrada da Iveco no segmento pode ajudar a desenvolver essa tecnologia no mercado interno?
Esse foi uma das questões levantadas em um seminário que ocorreu na Argentina. Posso dizer que fico muito feliz quando outros fabricantes investem em tecnologias de baixa emissão. Eu gostaria que mais empresas aderissem. A Iveco entende que o primeiro passo entre o motor a diesel e a tecnologia de zero emissão é o gás. Por isso, temos investido muito. O próximo passo é a eletrificação.
Caminhões elétricos
A JAC Motors e a Volkswagen estão lançando modelos elétricos no País. A Iveco também tem essa intenção?
Sem dúvida. Nessa parceria com a Nikola, que está completando um ano, nós evoluímos não só do ponto de vista tecnológico. Temos uma visão clara de introduzir a tecnologia – primeiramente na Europa, onde há boa infraestrutura e incentivos. A eletrificação é um passo posterior e complementar ao gás. O Brasil e a América Latina também terão veículos elétricos. Mas é preciso haver infraestrutura e subsídios para viabilizar a operação.
A Iveco me parece estar muito cuidadosa com relação à introdução dos veículos a gás no Brasil. Isso tem a ver com a experiência anterior da marca?
Eu diria que não. Como ocorre com todas as fabricantes europeias, o produto é desenvolvido para as estradas da Europa. E quando a gente vai introduzir um veículo em outra região, como é o caso da América Latina, é preciso ter muito cuidado. O produto precisa ser devidamente adaptado para a nossa realidade. Levamos isso muito a sério. Não queremos deixar passar absolutamente nada que seja crítico e que possa causar qualquer tipo de dano.
Produção
A demanda por caminhões voltou a crescer no Brasil. Como a Iveco está lidando com a falta de componentes gerado pela baixa capacidade de alguns fornecedores?
Todas as empresas estão sentindo esse gargalo porque a cadeia de fornecimento é global. Isso traz um grande desafio. A Iveco foi a primeira fabricante a retomar as atividades, e no momento mais crítico da pandemia, no dia 22 de abril. Voltamos antes para garantir a segurança necessária para manter a saúde dos colaboradores. E também para montar um grupo de trabalho global, cuja missão é ficar de olho em toda a cadeia logística. Precisamos nos certificar de que não haverá problemas críticos para manter a produção. Até o momento, tudo está funcionado bem. E a Iveco tem aproveitado a alta na demanda, principalmente no segmento de pesados, com produtos para o agronegócio, e no de leves. Estamos direcionando o nosso mix de produção para esses veículos e isso tem funcionado. Pelo que estamos vendo nos últimos meses, a Iveco foi a marca que mais cresceu no segmento de leves no País.
Nacionalização de componentes
Durante a fase mais crítica da pandemia, a indústria discutiu muito a questão de tornar o Brasil um polo de produção de componentes e peças…
Exato. Essa questão está muito ligada à variação do dólar. E isso faz com que o produto importado encareça bastante. E abre uma janela interessante para que possamos trabalhar para aumentar o índice de nacionalização e de produção local de componentes. Essa é uma das nossas prioridades.
Como o dólar continua em alta, a Iveco fará um novo reajuste de preços neste ano?
Nós fizemos um reajuste em junho por causa dessa alta significativa do dólar. Esse aumento foi de cerca de 5%. Agora, estamos reavaliando essa questão, porque o dólar continua em alta e prejudicando a rentabilidade das companhias. É possível que a alta nos preços ocorra. Por outro lado, a gente está passando por uma situação interessante, que é a retomada dos volumes de vendas e em níveis um pouco maiores. É um jogo de xadrez e estamos estudando tudo para encontrar os melhores caminhos nessa fase de crise.
O sr avalia que o Brasil está se recuperando bem da crise?
É uma questão complexa, porque envolve toda a cadeia logística e de produção. Por exemplo: há segmentos, como o agronegócio, que estão indo muito bem. Eu diria que não estamos nem otimistas e nem pessimistas. Estamos realistas. Não está tão ruim, mas estamos aquém do que deveríamos estar.
Produtos
No Brasil a Iveco vende de semi-leves a extrapesados. Mas não atende subsegmentos que são importantes, como o de cana-de-açúcar. Qual é a estratégia da empresa para lidar com isso?
Estamos explorando todos os segmentos dos poucos nichos em que a gente ainda não atua. E com o reaquecimento do mercado, essas aplicações ou esses produtos tendem a ficar mais viáveis. A meta da Iveco é ampliar o portfólio e atuar no maior número possível de nichos. Obviamente, isso precisa fazer sentido. Na Europa, temos um portfólio de veículos bastante interessante, como o S-Way, que é o nosso caminhão mais moderno. E estamos trabalhando para viabilizar a oferta da última geração dos nossos produtos no Brasil e nos demais países da América Latina. Isso vai ocorrer. É uma questão de tempo. (Estradão)