Seminário aponta caminhos para melhorar o transporte público

O Estado de S. Paulo

 

Em tempos de eleições municipais, como alertou Walter Barbosa, diretor de Vendas e Marketing de Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, é fundamental “não deixar de olhar na pauta de propostas dos candidatos se o tema mobilidade urbana está presente”. De acordo com o executivo, que participou de um seminário virtual sobre mobilidade urbana organizado pelo Estadão, a empresa está totalmente preparada, em termos tecnológicos, para atender as demandas dos próximos anos. “O fundamental é oferecer um custo operacional menor e tecnologias mais eficientes e que emitam menos poluentes”, diz Barbosa. “No caso da Mercedes-Benz, o grupo Daimler detém a tecnologia de motores, como exemplo o HVO, biodiesel de última geração, a gás e elétrico”, afirma o representante da montadora de ônibus.

 

Os problemas do transporte público brasileiro, segundo Barbosa e os demais representantes do setor que estiveram no evento, começam quando as questões de infraestrutura e de políticas públicas duradouras entram na mesa de discussão. “O transporte público deve ser o eixo principal da qualificação da vida urbana, desde que a sociedade tenha um projeto de mobilidade”, afirma Ailton Brasiliense Pires, presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). Segundo ele, a melhoria do transporte público brasileiro, inclusive a um custo menor, é possível, desde que todos os setores dialoguem e construam planos duradouros, voltados não apenas para um único mandato de um prefeito, mas para várias décadas.

 

“Continuar achando que transporte público é para pobre não vai resolver o problema. Isso mostra como está tudo errado. A sociedade precisa repensar a cidade de hoje de uma forma completa”, diz o especialista em mobilidade urbana. De acordo com o presidente da ANTP, os planos diretores das cidades e a discussão sobre uso e ocupação do solo precisam ser reconfigurados a partir do transporte público. “Devem ser projetos para 10 a 20 anos. Não é o gestor que deve decidir o plano. As ideias devem partir da sociedade, e cabe aos gestores executá-las.”

 

O exemplo paulistano, segundo Pires, é emblemático. Até 1950 a cidade construiu o seu desenvolvimento considerando a rede de transporte sobre trilhos, incluindo os bondes. Porém, depois disso, apesar de a população ter aumentado na ordem de dez vezes até hoje, o transporte individual passou a ser prioridade. “Como resultado, o deslocamento médio, que era de 15 minutos, passou para 70 minutos”, afirma o pesquisador. Um transporte público ruim, segundo Pires, acaba gerando muitos impactos negativos nas cidades, inclusive financeiros. “A quantidade de poluição, de congestionamento e de acidentes aumenta muito”, afirma.

 

O desequilíbrio entre transporte individual e coletivo – nenhum participante do seminário é contra o uso do automóvel – foi realçado no exemplo dado por Otávio da Cunha, presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Segundo ele, em São Paulo, enquanto 70% das vias são ocupadas pelo transporte individual, esse modo de deslocamento costuma levar apenas 25% das pessoas. “Tem solução, mas ela precisa ser estruturada. O empresário é sempre visto como um vilão, mas estamos falando de um serviço que é público. Por isso, defendemos a elaboração de um marco regulatório do transporte, que seria um caminho seguro para a melhoria do nosso setor”, afirma Cunha.

 

Entre os pontos polêmicos do debate sobre mobilidade urbana, como as gratuidades do setor, o presidente da NTU não é a favor de que elas sejam eliminadas. Mas ele quer que o custo desse processo seja coberto pelo poder público. “Uma taxa sobre a gasolina, por exemplo, poderia cobrir as gratuidades. Ou mesmo uma cobrança maior pelo licenciamento poderia resolver”, afirma o executivo do setor de transporte público.

 

Pandemia

 

Se o debate sobre as próximas décadas do transporte público nas cidades é um ponto central em tempos de eleições municipais, o setor também está atento aos protocolos de segurança que precisam ser seguidos para que a população volte a se sentir segura dentro de ônibus e trens, onde a chance de ocorrer aglomerações é sempre maior.

 

“Como a Mercedes é protagonista da mobilidade urbana, nós temos a obrigação de informar corretamente a população”, afirma Walter Barbosa, diretor de Vendas e Marketing de Ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, empresa que acaba de lançar a campanha “Vá de ônibus e vá seguro”.

 

Para o executivo, um dos mitos que precisa ser derrubado é o do ar-condicionado. “As pessoas pensam que ele é um grande ponto de contaminação e que o ar no interior dos ônibus nunca é renovado, mas isso não é verdade”, afirma Barbosa. Segundo ele, os equipamentos de refrigeração dos ônibus estão totalmente preparados com filtros de ar que conseguem eliminar 99% dos vírus e das bactérias do ambiente. “E o ar no interior dos veículos chega a ser renovado algumas vezes por segundo, dependendo um pouco do equipamento utilizado. É algo superseguro”, diz o representante da Mercedes.

 

Para Otávio Cunha, dificilmente a demanda será como antes, porque todos estão aprendendo com a pandemia. Mas isso não significa, segundo ele, que seja inseguro viajar de ônibus; muito pelo contrário. “Se tomarmos todos os cuidados, como as empresas estão fazendo, a possibilidade de se contaminar é muito pequena”, afirma o dirigente da NTU. Ajuda e muito, segundo ele, a participação da população, que também deve seguir todos os protocolos de segurança, como lavar as mãos e usar máscara.

 

“A mobilidade urbana bem conduzida será importante para a retomada das cidades como um todo. Nossos estudos mostram que não existe correlação entre o uso de transporte público e o aumento dos números de casos de covid-19. Mas também não estamos falando que o risco de contaminação não existe. Os usuários, por exemplo, são informados de que precisam lavar as mãos antes e depois de usar o transporte. Assim como as empresas devem fazer a higienização dos veículos nas garagens e, durante o dia, limpar também os corrimões e as botoeiras sempre que possível”, afirma Cunha. (O Estado de S. Paulo)