Audi repete roteiro e encerrará produção no Brasil pela segunda vez

AutoIndústria

 

Johannes Roscheck, CEO da Audi no Brasil, finalmente assumiu nesta quinta-feira, 23, o que já vinha sinalizando há dois anos: a montadora vai parar de produzir no Brasil. Mais uma vez! Em 2004, após cinco anos fabricando o hatch A3 em São José dos Pinhais, PR, a Audi alegou custos de produção elevados para se transformar em mera importadora por uma década.

 

É o que ocorrerá mais uma vez a partir do fim deste ano, quando, oficialmente, o A3 Sedan sairá da linha de montagem paranaense. Roscheck, contudo, diz que, desta vez, se trata apenas de uma pausa e que a operação brasileira segue em discussão com a matriz para voltar a produzir um automóvel aqui, mas, na melhor das hipóteses, somente dentro um ano.

 

O executivo, de qualquer forma, deixou claro que a eventual segunda volta da Audi ao Brasil, onde chegou como marca importada pelas mãos da Senna Import em 1994 – seu período de maior sucesso no País -, depende da restituição dos valores referentes ao IPI majorado em 30 pontos porcentuais recolhido pela empresa durante os cinco anos do Inovar-Auto (2012-2017) sobre os modelos importados.

 

Pelo programa, as montadoras poderiam reaver os valores recolhidos sobre veículos importados que seriam posteriormente fabricados aqui, como aconteceu com o próprio A3 Sedan e com o utilitário esportivo Q3.

 

A curta trajetória do SUV nacional, aliás, é prova de que o fim da boa-vontade da Audi com o País em nada tem a ver com a crise de vendas gerada pela pandemia e que, de qualquer maneira, não resultou no fim de operação de nenhuma outra empresa, nem mesmo das concorrentes diretas BMW e Mercedes-Benz, que também começaram a produzir automóveis aqui em decorrência das limitações impostas pelo Inovar-Auto.

 

O Q3 começou a ser fabricado no Paraná em 2016 e já em 2018 teve seu fim decretado por Roscheck e equipe. O mercado brasileiro então já experimentava recuperação e crescera quase 14% sobre as vendas de 2017.  No fim de 2019, outro ano de evolução das vendas internas (+7,6%),  a geração sucessora passou a ser importada da Europa.

 

Durante seu lançamento, em novembro, Roscheck já deixara claro que a produção local do SUV dificilmente seria retomada. “[A decisão de produzir aqui] depende de muitos fatores ainda”, disse o executivo, lembrando, por exemplo, os desafios impostos aos custos pelo conjunto de diretrizes do Rota 2030.

 

Assim, o fim da produção em São José dos Pinhais, até prova em contrário, é o epílogo de um roteiro que vem sendo desenhado há pelo menos três anos e que dificilmente será revertido, mesmo com a recuperação dos valores dos impostos recolhidos pela empresa.

 

O governo deve R$ 290,7 milhões para Audi, BMW e Mercedes-Benz, algo como US$ 53 milhões na cotação atual.

 

Esse valor, se dividido igualmente, viabilizaria, no máximo, um facelift mais profundo de um dos modelos de cada uma das marcas.

 

O CEO da Audi diz, contudo, que seria um gesto importante por parte do governo, mesmo que quase simbólico em termos de valores.

 

Fato é que a marca tem se dedicado, de dois anos para cá, a segmentos de produtos superiores, de margem de lucro muito mais elevada, ainda que isso venha a representar número de vendas inferiores –  no acumulado de 2020, a Audi perdeu sua histórica terceira colocação entre as marcas premium para a Volvo, que só conta com veículos importados.

 

Nos últimos meses chegaram às lojas Audi SUVs como Q8, Q7 e o elétrico e-tron, carros vendidos por valores equivalentes a três, quatro ou cinco A3 Sedan nacionais. E que nunca serão fabricados no Brasil, por óbvias razões. (AutoIndústria)