O Estado de S. Paulo
Nesta quarta-feira, o Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, aprovou decreto que impede a venda de carros novos a combustíveis fósseis a partir de 2035. O banimento não alcança nem os veículos a gás nem os que já vêm rodando.
O governador Gavin Newsom justificou a decisão com o argumento de que “os carros não podem mais produzir asma nas crianças, nem piorar os incêndios florestais, nem derreter os glaciares, nem aumentar o nível do mar”.
A decisão da Califórnia acabará por ter impacto nos demais Estados, porque a indústria de veículos não poderá fabricar carros especialmente para a Califórnia. É efeito parecido com o que aconteceu com a proibição de aviões barulhentos demais. Como têm de utilizar todos os aeroportos do mundo, ficou inevitável adotar as mesmas restrições para todos os aviões.
Embora tenham importantes cidades litorâneas, como Nova York, Miami, Nova Orleans, Boston e San Francisco, os Estados Unidos não são um país que dedica especial fervor nem às metas do Acordo de Paris nem a outras políticas de proteção ao meio ambiente, especialmente às dedicadas à reversão do efeito estufa.
A decisão da Califórnia reforça a convicção de que não será pelo esgotamento das reservas de hidrocarbonetos que a era do petróleo chegará ao fim. Muito antes disso, serão decisões de política pública que apressarão não apenas o banimento dos motores a combustível fóssil, mas também a substituição da matriz energética global, hoje ainda altamente dependente da queima de óleo combustível, por fontes renováveis (especialmente de energia eólica e solar).
Alguns países da Europa criaram incentivos especiais para a substituição de carros a gasolina e diesel por carros elétricos ou híbridos ou, ainda, simplesmente impuseram uma data-limite para a venda de carros que continuem emitindo gás carbônico pelos seus escapamentos. Na Noruega e na Dinamarca, esse limite é 2025; na França, 2050. No Reino Unido, o governo do primeiro-ministro Boris Johnson está sendo pressionado para encurtar esse prazo de 2040 para 2030. Na Alemanha, mais de 30% dos carros novos já são elétricos.
No Brasil, não se vê nenhum sentido de urgência para adaptar a frota nacional de veículos aos novos padrões ambientais. E, em vez de aumentar os incentivos à produção e ao uso de energia eólica e solar, as pressões são por aumentar as restrições às fontes renováveis, sob o argumento de que é preciso remunerar as redes de distribuição, embora elas também tirem proveito dessa energia.
Quanto ao petróleo, os políticos e o governo do País se comportam como se o setor não enfrentasse ameaças de mercado dentro dos próximos 15 anos. Em vez de tirar o máximo proveito das atuais reservas de petróleo e gás, o jogo político é de impor obstáculos ao aumento da produção. No momento, o Supremo está para acatar argumentação das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado que pretendem a proibição de que refinarias da Petrobrás sejam convertidas em subsidiárias, para que assim possam ser imediatamente revendidas, com o que reforçariam o caixa da empresa e aumentariam seus investimentos na produção de petróleo. Imprevidência sai caro. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)