Indústria automobilística pede adiamento de programa antipoluição no País

O Tempo  

 

Quando as atividades econômicas e a cidade praticamente pararam por conta da pandemia do coronavírus, os reflexos da exploração humana foram visíveis no meio ambiente. Só em Belo Horizonte, a poluição do ar teve uma redução de 45% entre março e abril, segundo dados da Fundação Estadual de Meio Ambiente. A principal fonte dos gases tóxicos está nos carros, caminhões e ônibus.

 

E para reduzir os impactos desse problema, cuja necessidade de solução ganhou ainda mais força pelas cenas de cidades com melhor qualidade do ar por conta do isolamento social, o Brasil conta com o Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), em vigor desde 1986. A próxima etapa de atualização tecnológica dos veículos fabricados no país para reduzir as emissões de gases está prevista para ser iniciada em 2022.

 

Porém, justamente devido à crise econômica causada pela Covid-19, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) pede que o início do programa seja adiado por mais dois anos, para 2025. As justificativas são a queda de receita das companhias, além da interrupção dos testes relativos ao Proconve – a expectativa do setor é que a fabricação de carros tenha queda de 45% neste ano, com uma lenta retomada nos próximos quatro anos.

 

Preocupação

 

Especialistas veem com muita preocupação o pedido das montadoras de veículos e temem pelos danos que possam ser causados à natureza. Segundo o ambientalista e ex-secretário de Estado de Meio Ambiente de São Paulo, Fabio Feldmann, a poluição do ar já é a principal responsável pelas mortes no mundo – por conta de doenças cardiovasculares e respiratórias.

 

“Até saiu um artigo importante que chama esse problema de pandemia. Estima-se que mais de quatro milhões de mortes são causadas pela contaminação do ar e a expectativa de vida pode cair até um ano e meio nas áreas mais afetadas”, aponta Feldmann. Por isso, o especialista lembra que é urgente o controle de emissões dos poluentes que saem dos motores dos veículos.

 

“É importante lembrar que quando se compra um automóvel hoje, o uso médio dele é por 20 anos. Com isso, estamos colocando no mercado um produto que poluir o meio ambiente pelas próximas décadas sem esse melhor controle exigido pelo programa. Quanto mais rápido as regras entrarem em vigor, menor será a poluição ambiental”, argumenta.

 

O programa

 

Após um longo processo de discussão entre sociedade civil, Anfavea, governos e cientistas, foi definido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente em 2018 o calendário de implementação no Proconve. Entre as definições, estão a atualização tecnológica da indústria brasileira aos níveis internacionais mais avançados, realizada progressivamente entre 2022 e 2025.

 

O ambientalista Fabio Feldmann lembra que não vi ocorrer nenhum tipo de inovação nas montadoras, mas apenas ajustes de ferramentas de controle de missões que já existem no mundo. “O Brasil normalmente adota o padrão europeu e estamos, atualmente, atrás deles. Essa resolução só pretende colocar o país nos trilhos para acompanhar tendências implementadas lá fora”, enfatiza.

 

A expectativa do programa é reduzir em 90% a emissão dos chamados compostos orgânicos voláteis (VOC), além de 80% de óxidos de nitrogênio, o que contribui com a redução da presença dos gases poluentes na atmosfera. Entre 2025 e 2031, os limites de emissão entre veículos leves comerciais, como os pequenos caminhões baú, e os automóveis devem ser igualados.

 

No ano passado, um estudo divulgado pela ONG Instituto Saúde e Sociedade estimou que as novas regras do Proconve evitarão cerca de 150 mil mortes em 28 anos – provocadas por doenças cardiovasculares que têm ligação com a poluição do ar – e ainda trazer uma economia de R$ 68 bilhões aos cofres públicos por evitar gastos com o tratamento de doenças.

 

Procurados, Anfavea e Ministério do Meio Ambiente não se pronunciaram sobre o assunto. (O Tempo/Lucas Morais)