Com produção fraca, montadoras ampliam programas de corte de trabalhadores

O Estado de S. Paulo

 

A produção de veículos em agosto foi 21,8% menor do que a de igual mês do ano passado, com 210,9 mil unidades, confirmando os efeitos da pandemia do coronavírus sobre o setor, apesar de uma melhora em relação a julho. No ano, as montadoras produziram até agora 1,1 milhão de unidades, incluindo caminhões e ônibus. São 900 mil unidades a menos do que em igual período de 2019, ou o equivalente a quatro meses de produção. Com elevada ociosidade, as fábricas ampliam programas de corte de pessoal, que devem se intensificar nos próximos meses.

 

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, disse nesta sexta-feira, 4, ao apresentar os dados do setor em agosto, ser “inevitável a redução do quadro de pessoal, considerando o volume interno menor e a redução do volume interno e da queda das exportações”. Nos oito meses deste ano, as vendas caíram 35%, para 1,16 milhão de unidades, volume que, em 2019, foi atingido em cinco meses. São 628 mil veículos a menos. As exportações tiveram recuo de 41,3%, somando apenas 176,7 mil unidades.

 

Na próxima semana é esperado um grande tombo em relação aos empregos no setor, pois deve ser anunciado o resultado das negociações que a Volkswagen e os sindicatos de trabalhadores das quatro fábricas do grupo no País realizam há quase três semanas para um corte de 35% da mão de obra. Esse é o excedente que a empresa informa ter, o que equivale a cerca de 5 mil funcionários.

 

O presidente da companhia, Pablo Di Si, afirmou nesta sexta que a produção da marca caiu 44% neste ano, para 186 mil automóveis e comerciais leves – quase a mesma proporção do mercado total –, o menor volume em quase 20 anos. “Não esperamos uma recuperação significativa nos próximos cinco anos e temos de adequar a mão de obra à demanda do mercado”, disse.

 

O executivo lembrou que a empresa já adotou medidas de flexibilização como férias coletivas, redução de jornada e salários e lay-off e analisa todas as ferramentas nas negociações. Uma nova reunião está marcada para terça-feira. “É certo que não vamos demitir de um dia para o outro, mas temos senso de urgência pois não é sustentável trabalhar com apenas 43% de uso de capacidade”. O grupo emprega cerca de 15 mil trabalhadores nas três fábricas de São Paulo e uma no Paraná.

 

Cortes na pandemia

 

Durante a pandemia as montadoras já eliminaram 4,1 mil vagas e hoje empregam 121,9 mil trabalhadores. Numa conta direta, significa que cada funcionário produziria neste ano 16 veículos, levando em conta a produção prevista até dezembro, de 1,63 milhão de unidades. Em 2010, foram 28 veículos por trabalhador. “Ninguém gosta de demitir, até porque é uma mão de obra qualificada, mas haverá redução no futuro própria”, afirma Moraes, da Anfavea.

 

Mesmo com a redução de vendas na maioria dos países, em especial na América Latina, as montadoras têm buscado formas de melhorar as vendas externas. Nesta semana, Moraes esteve com o ministro da Economia Paulo Guedes, para discutir um programa de financiamento às exportações, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que valeria também para outros setores. A ideia é uma linha para financiar o comprador.

 

Segundo Moraes, com a crise da pandemia da covid-19 vai aumentar ainda mais a ociosidade global das fábricas e a indústria brasileira, por causa da falta de competitividade em razão do chamado custo Brasil, pode perder os poucos mercados que ainda têm na América do Sul. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)