Autopeças apostam em carros novos e tecnologia para superar crise provocada pela pandemia

Portal G1

 

A queda nas vendas de veículos novos e seminovos mostra apenas um dos lados da crise provocada pela pandemia do coronavírus no Brasil.

 

Por trás de cada unidade que deixou de ser vendida, há centenas de fornecedores de peças que também tiveram que paralisar as atividades e readequar a produção para uma nova realidade.

 

De acordo com o Sindipeças, a associação das autopeças, em abril, mês mais difícil para o setor em 2020, o faturamento das empresas caiu 81,6% na comparação com março. Nesse mesmo período, a ociosidade nas fábricas chegou a 59%. Antes da pandemia, o índice vinha estável na casa dos 30%.

 

A partir daí, uma tímida recuperação começou a ser percebida.

 

Segundo levantamento mais recente do Sindipeças, a ociosidade ficou em 50%, enquanto o faturamento cresceu 47,4% em relação a maio.

 

Ruim, mas podia ser pior

 

De qualquer forma, a previsão é que 2020 termine com faturamento 30% menor para as empresas.

 

Os indicadores passam longe de ser positivos, mas a previsão no início da pandemia, em março, era de um tombo ainda maior, chegando perto dos 50%.

 

Algumas empresas, porém, se mostram otimistas em recuperar as perdas dos últimos meses e fechar 2020 com faturamento próximo ao de 2019.

 

É o caso da Delphi Technologies, que produz peças para sistemas de ar-condicionado, injeção e ignição de carros, motos e vans. A empresa possui uma fábrica em Piracicaba (SP), e emprega cerca de 1.000 funcionários no Brasil.

 

“Vamos ter, sim, queda no faturamento. Mas muito menos do que imaginávamos no começo da pandemia. Se não fechar igual, será muito pouco abaixo em relação a 2019. Se isso acontecer, será uma vitória muito grande”, disse Amaury.

 

Novos produtos ajudaram

 

Outras empresas também creditam a retomada mais rápida aos novos produtos que foram lançados no Brasil. Nos últimos meses, o mercado viu a chegada de modelos de peso, como as novas gerações da Fiat Strada e do Chevrolet Tracker, além do inédito Volkswagen Nivus, todos nacionais.

 

“O mercado está se beneficiando dos novos lançamentos. As montadoras, contrariamente ao que poderia ser o medo inicial, não pararam nem o desenvolvimento, nem os lançamentos”, disse Giuseppe Zippo, presidente da Denso do Brasil.

 

A empresa de origem japonesa é uma das maiores fornecedoras da indústria automotiva do mundo. No país, são 6 fábricas no Brasil, 1 na Argentina e cerca de 3 mil funcionários. Entre os componentes produzidos, estão sistemas de ar-condicionado e peças como velas, bicos injetores e filtro de combustível, por exemplo.

 

Na América Latina, o investimento anual em desenvolvimento de tecnologias é de R$ 95 milhões, e foi mantido para 2020. A empresa também fornece componentes para a nova Fiat Strada.

 

A opinião de Zippo é compartilhada por Hamilton Marins, diretor comercial da Metagal, empresa brasileira que produz, entre outros componentes, espelhos retrovisores para empresas como Fiat, Ford, Toyota, Honda e Nissan.

 

“O modelo que vende é o último que chega nas lojas. Se sua empresa está naquele produto, você alavanca junto. Se você não está, você espera um novo produto”, afirmou o executivo.

 

A companhia, que possui 4 fábricas no Brasil e 1 na Argentina, emprega cerca de 700 funcionários. Ela fornece componentes, entre outros modelos, para a nova geração da Fiat Strada.

 

Ao todo, a Metagal tem capacidade produtiva de 6 milhões de peças por ano. Porém, mesmo com a alta demanda pela nova Strada, (a Fiat diz que vendeu 23 mil unidades em pouco mais de um mês), a empresa retomou a produção com jornada reduzida. Para setembro, a expectativa é ter as fábricas operando com 70% da capacidade, ainda abaixo dos 90% previstos antes da pandemia.

 

Apesar da diferença no tamanho das empresas, durante a pandemia, as duas tiveram que adotar medidas de flexibilização dos regimes de trabalho, como redução da jornada, férias coletivas e lay-off.

 

No caso da Delphi, mesmo sendo fornecedora de componentes para o Chevrolet Tracker e a Fiat Strada, os lançamentos não tiveram impacto tão grande na recuperação das vendas.

 

Por outro lado, a empresa foi beneficiada de um setor importante para o mercado de fornecedoras. “Quem está ajudando mesmo é o setor de reposição. Os volumes estão se mantendo graças aos veículos usados”, disse Oliveira.

 

Como os serviços de entregas tiveram alta na demanda nos últimos meses, a necessidade de manutenção dos veículos faz com que a procura por peças de reposição cresça.

 

Segundo o Sindipeças, a fatia do mercado de reposição no faturamento das fornecedoras cresceu desde o início da pandemia, passando de uma média de 15% entre junho do ano passado e março desde ano para 37,3% em abril, 25,7% em maio e 24,5% em junho.

 

Ainda assim, as montadoras ainda são os maiores clientes das chamadas sistemistas. Mesmo depois da chegada do coronavírus, elas ainda representam as maiores participações nos ganhos dessas empresas.

 

Projetos mantidos

 

Aliás, as fornecedoras também comemoram que os produtos futuros não foram cancelados. Com isso, a força de trabalho, principalmente na fase de desenvolvimento, foi mantida.

 

Isso porque novos carros e renovações dos modelos atuais que serão lançados daqui 2 ou 3 anos já estão sendo desenvolvidos pelas fabricantes e por suas fornecedoras.

 

“Houve alguma redução na jornada e na velocidade do desenvolvimento, mas estamos seguindo com todos os sistemas automotivos para os modelos que estão em desenvolvimento. Vai haver um pequeno atraso, mas nada muito significativo”, disse Zippo.

 

Porém, a pandemia também fez com que algumas tecnologias ganhassem relevância e “passassem” na frente de outras. No caso da Denso, a empresa tem trabalhado na área de ventilação dos veículos.

 

“Criamos sistemas de sensores que avaliam o ar externo para proporcionar um ar com características mais saudáveis”, afirma o presidente da Denso. O desenvolvimento dessa tecnologia específica foi acelerado, pois a empresa acredita num crescimento nas buscas por essas tecnologias.

 

“Estamos entendendo que nesse momento se torna uma exigência não só nossa, mas também do cliente final”, concluiu.

 

Na Metagal, a situação é semelhante. A empresa está desenvolvendo um alerta de colisão frontal para motocicletas.

 

O recurso já é conhecido de automóveis e caminhões, mas ainda é pouco conhecido entre as motos. Com o recurso, os motociclistas receberão um alerta sonoro e visual quando um veículo que vai a frente frear de forma repentina e a colisão for iminente.

 

Especialista em retrovisores, a fabricante também trabalha na criação de um espelho que projeta as imagens em telas, em um sistema semelhante ao do Audi E-Tron e Mercedes-Benz Actros.

 

Além das novas tecnologias, a Metagal ainda afirma estar participando de 10 novos projetos, que serão lançados entre 2022 e 2023. “Nenhuma montadora paralisou. Se houver atraso, não vai ser mais do que 3 meses, por conta da redução na força de trabalho”, completa Marins. (Portal G1/André Paixão)