Crise põe País em recessão, diz FGV

O Estado de S. Paulo

 

O Brasil entrou em recessão a partir do primeiro trimestre deste ano, informou ontem o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Após uma reunião na última sexta-feira, 26, o grupo de economistas avaliou que a retração de 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB, soma total do valor de tudo o que é produzido na economia) brasileiro do primeiro trimestre já foi suficiente para concluir que o ciclo de negócios brasileiro atingiu um pico de expansão no quarto trimestre de 2019, o que “sinaliza a entrada do país em uma recessão a partir do primeiro trimestre de 2020”.

 

Segundo economistas, a simples retração do PIB num trimestre não basta para definir uma recessão. O PIB é apenas uma das dimensões e, na definição acadêmica, também é comum levar em conta o comportamento da atividade em relação a seu “potencial” (ou seja, o quanto uma economia pode crescer sem provocar desequilíbrios, como inflação), afirmaram ao Estadão os professores José Luís Oreiro, da Universidade de Brasília (UnB), e Eduardo Zilbermann, da PUC-Rio.

 

Para o Codace, recessão é “um período de queda generalizada na atividade econômica, com efeitos negativos sobre a maioria dos setores e pessoas em uma economia”, disse, por escrito, Paulo Picchetti, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV e um dos membros do colegiado. Também pode ser uma “conjuntura de declínio da atividade econômica, caracterizada por queda da produção, aumento do desemprego, diminuição da taxa de lucros e crescimento dos índices de falências e concordatas”, na definição do economista Paulo Sandroni, no Novíssimo Dicionário de Economia.

 

Por isso mesmo, geralmente, os economistas levam tempo para definir quando uma recessão começa e termina. O próprio Codace só concluiu que o Brasil entrou em recessão a partir do segundo trimestre de 2014 em agosto de 2015, mais de um ano depois. O mesmo ocorre em outros países.

 

Só que com a crise da covid19 é diferente. Após a retração de 1,5% no primeiro trimestre, as projeções de analistas do mercado financeiro apontam para um tombo em torno de 10% neste segundo trimestre sobre os três primeiros meses do ano. Em abril, a produção industrial despencou 18,8% ante março, enquanto as vendas no varejo recuaram 16,8% e o volume de serviços prestados, 11,7%. Para 2020 como um todo, as estimativas são de uma queda de 6,54% no PIB, no que será o pior desempenho anual da histórica econômica nacional, registrada desde 1901.

 

“Nessa crise, foi óbvio quando o meteoro chegou”, afirmou o economista Edmar Bacha, diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG), integrante da equipe que criou o Plano Real no início dos anos 1990 e membro do Codace.

 

Nos Estados Unidos, o Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (NBER, na sigla em inglês), instituto privado fundado em 1920 cujas definições dos ciclos econômicos são usadas pelo governo americano e no qual o Codace se inspira, também agiu mais rapidamente do que o usual. No último dia 8, soltou comunicado registrando o início de uma recessão nos Estados Unidos em março passado – a recessão do “subprime”, por exemplo, só teria a data de início, dezembro de 2007, confirmada pelo NBER em dezembro de 2008.

 

Ao decidir confirmar logo o início da recessão causada pela pandemia, tanto o NBER quanto o Codace foram mais rápidos do que economistas do mercado financeiro, que nem precisaram falar em “recessão técnica”. O jargão, comumente usados, é definido, simplesmente, como a situação em que a variação do PIB trimestral registra duas quedas seguidas, sempre na comparação com o trimestre imediatamente anterior.

 

Apesar da definição aparentemente objetiva e de fácil entendimento, curiosamente, o termo não é encarado como um conceito por pesquisadores. (O Estado de S. Paulo/Vinicius Neder)