BC prevê queda de 6,4% para o PIB neste ano

O Estado de S. Paulo

 

Em meio aos impactos da pandemia do novo coronavírus sobre famílias e empresas, o Banco Central cortou ontem sua estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2020. Se no fim de março, quando a crise estava no início, o BC chegou a estimar um PIB zero este ano, agora a instituição já projeta retração de 6,4%. A inflação para o ano está projetada em 2,4%.

 

O porcentual de queda no PIB pode até ser considerado otimista. O Fundo Monetário Internacional (FMI) trabalha com um recuo de 9,1% para o PIB brasileiro em 2020, enquanto pelo menos uma instituição financeira no Brasil, conforme dados do próprio BC, já projeta queda de 11%.

 

Em entrevista coletiva virtual para comentar as projeções contidas no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a estimativa de queda de 6,4% traz um “viés de melhora”. “Achamos a projeção de PIB do FMI bastante pessimista”, comentou.

 

Pelos cálculos do BC, o único setor que se salvará na pandemia será o de agropecuária. Em função das exportações firmes de alimentos para outros países, o setor deve ter crescimento de 1,2% do PIB em 2020, conforme a autarquia.

 

Já o setor de serviços será fortemente afetado pelo isolamento social. Com estabelecimentos comerciais ainda fechados em várias partes do País, o cálculo do BC é de que haja retração de 5,3% para o PIB de serviços este ano. Em meio ao isolamento, o segmento de comércio deve recuar 10,8% e o de transportes, 13,4%.

 

As estimativas do BC mostram, porém, que a indústria será a mais afetada pela pandemia. A projeção para o PIB industrial em 2020 é de retração de 8,5%. No fim de março, o BC ainda esperava por uma queda pequena, de 0,5%.

 

“A indústria é sensível à preocupação sobre se a pandemia vai mudar o padrão de consumo no longo prazo”, comentou Campos Neto. “Além disso, algumas indústrias têm custo maior para se adaptar à pandemia. Já os serviços têm muito menos volatilidade. Apesar de a queda ser menor que a da indústria, a baixa é grande”, acrescentou.

 

Também presente à coletiva virtual, o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, qualificou como “brutal” os efeitos do isolamento social sobre a economia. “Basta olhar pela janela”, resumiu.

 

Com a economia em retração e alta do desemprego entre as famílias, sobra pouco espaço para aumento de preços. No RTI, o BC também atualizou suas projeções para a inflação. No cenário em que considera as estimativas do mercado para câmbio e juros – o chamado “cenário de mercado” –, o BC projetou inflação de apenas 2,4% em 2020. Já as estimativas para 2021 e 2022 estão em 3,2%.

 

Para 2020, a meta de inflação perseguida pelo BC é de 4,0%, com margem de 1,5 ponto (taxa de 2,5% a 5,5%). Isso significa que, caso a projeção do BC seja confirmada, o Brasil terá uma inflação abaixo do piso da meta este ano – algo inusitado para um país que, historicamente, sempre teve problemas para manter preços sob controle.

 

Para economistas do mercado financeiro, a inflação baixa abre espaço para o BC continuar a reduzir a Selic (a taxa básica de juros da economia), atualmente em 2,25% ao ano. A expectativa é de que um corte de 0,25 ponto porcentual possa ser feito em agosto. Ao mesmo tempo, a avaliação é de que a inflação não ficará baixa para sempre, como mostram as estimativas para os próximos anos. (O Estado de S. Paulo/Fabrício de Castro, Lorenna Rodrigues e Cícero Cotrim)