O Estado de S. Paulo
Após três meses de paralisação por causa da pandemia do coronavírus, a Nissan retomará a produção, ainda parcial, na fábrica de Resende (RJ) na próxima quarta-feira. Além do desafio comum a todas as empresas do setor, de lidar com as perdas decorrentes da covid-19 e de um mercado em média 40% inferior ao esperado no início do ano, a empresa terá de adequar seus projetos ao plano global anunciado há poucos dias no Japão, de produção em plataformas (bases) unificadas com a Renault.
A aliança que reúne também a Mitsubishi passou por abalos após a prisão do ex-presidente do grupo, o franco brasileiro Carlos Ghosn, por suspeitas de fraudes financeiras. “A continuidade da aliança havia sido colocada em dúvida mas, com o novo plano, ela será fortalecida”, afirma Marco Silva, presidente da Nissan do Brasil.
Silva está iniciando trabalhos para definir, junto com a Renault, quais serão os dois primeiros modelos a serem produzidos até 2023 na plataforma compartilhada no Brasil.
Hoje as duas empresas têm, por exemplo, quatro diferentes bases para a produção de seis modelos (March e Kicks, da Nissan, e Sandero, Stepway, Logan e Captur, da Renault, produzidos no Paraná). Com o compartilhamento, uma única plataforma produzirá sete carros das duas marcas.
“A sinergia promoverá economia de custos, ganho de escala, maior produtividade, eficiência e redução de tempo de desenvolvimento de produtos”, diz Silva, para quem a estratégia ajudará o Brasil e a América Latina a atrair investimentos das matrizes.
Nissan e Renault aguardam aval das direções globais para novos planos de investimento no País e é possível que o anúncio ocorra de forma conjunta em breve. De acordo com a empresa, investimentos para produção de modelos em bases compartilhadas são em média 40% inferiores aos necessários em relação à forma atual, em que cada uma tem suas bases.
Segundo o executivo, toda vez que se apresenta um novo projeto, as matrizes levam em consideração as incertezas econômicas relativas, por exemplo, à instabilidade do País e custos elevados de produção, itens que já levaram fabricantes locais a perderem vários projetos.
“Com melhores condições de custos e ganhos em produtividade na sinergia, vamos tirar parte do risco de se colocar dinheiro nesses produtos e poderemos vender os projetos de forma mais fácil (para as matrizes)”, afirma o presidente da Nissan. “O investimento virá.”
Silva ressalta que já existem sinergias entre as duas marcas nas áreas de compra, recursos humanos, alguns componentes e isso vai se fortalecer com o uso das mesmas bases. “Em vez de 300 mil veículos em quatro plataformas poderemos fazer 300 mil ou mais em uma só”, diz. Segundo ele, o ganho de escala se estenderá também aos fornecedores de peças.
Plano global
As medidas anunciadas no fim de maio pela aliança Renault/Nissan/Mitsubishi visam reduzir custos e recuperar a lucratividade em todo o grupo. Só com o desenvolvimento e produção conjunta de novos utilitários-esportivos compactos (SUVs), por exemplo, a corporação espera economia de US$ 2,2 bilhões.
No caso da Nissan, o plano inclui fechar fábricas na Espanha e na Indonésia, mas Silva afirma que não há riscos de movimentos deste tipo no Brasil. “Mesmo com a indústria mais baixa, há capacidade para absorver parte da produção das duas fábricas (da Renault e da Nissan).”
“Vamos avaliar o que é melhor, mais eficiente para cada planta, mas usaremos as duas para produção e também há projetos individuais que podem ocorrer de forma paralela”.
A marca também reduzirá seu portfólio global de produtos em 20% – de 69 para 55 modelos –, e promete 12 lançamentos nos próximos 18 meses. Até 2024 pretende ter 80% de sua produção compartilhada com Renault e Mitsubishi. No Brasil, a unificação será só com a Renault. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)