BNDES anuncia empréstimo de US$ 300 milhões como socorro para a Embraer

O Estado de S. Paulo

 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou nesta segunda-feira, 15, a aprovação de um empréstimo de US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão) para a Embraer, o primeiro passo para socorrer a fabricante brasileira de aviões, atingida em cheio tanto pela pandemia de covid-19 quanto pelo rompimento de uma parceria com a americana Boeing.

 

O financiamento faz parte de um pacote de crédito oferecido por um sindicato de bancos, que poderá chegar até US$ 600 milhões (R$ 3 bilhões), dependendo da adesão das instituições financeiras comerciais.

 

O sindicato de bancos é coordenado pelo BNDES, que, desde abril, vem negociando com instituições comerciais e de investimentos, públicas e privadas, a criação de linhas de apoio para grandes empresas dos setores mais afetados pela crise. Segundo o superintendente da Área de Indústria, Serviços e Comércio Exterior do BNDES, Marcos Rossi, os outros US$ 300 milhões que caberão aos bancos integrantes do sindicato ainda dependem de aprovações internas de cada instituição financeira.

 

“Os US$ 300 milhões do BNDES serão importantes pra alavancar o resto”, afirmou Rossi, sem citar nomes de bancos que discutem a participação no sindicato, nem estimar quantos bancos poderão participar do grupo ou qual seria o valor do empréstimo de cada instituição. “O desafio foi ajustar tempos e movimentos para que a operação pudesse sair casada”, completou o superintendente do BNDES.

 

Após o fracasso do acordo firmado com a americana Boeing e em meio ao caos do setor aéreo por conta da covid-19, a fabricante brasileira deu início a uma reestruturação de seus negócios. A expectativa de que o BNDES e o sindicato de bancos fizessem parte da equação financeira com o empréstimo total de cerca de R$ 3 bilhões estava colocada desde o início deste mês.

 

Busca por recursos

 

No comunicado divulgado após o fechamento da Bolsa nesta segunda-feira, 15, a Embraer ainda ressaltou que terá que buscar outras fontes de recursos. “A companhia continuará avaliando formas adicionais de financiamento de maneira a manter um perfil de endividamento de longo prazo e condizente com seu ciclo de negócios”, diz o comunicado.

 

Para financiar a Embraer, o BNDES lançou de uma linha de crédito tradicional, a BNDES Exim Pré-embarque. Nessa linha, os empréstimos são feitos diretamente para financiar o capital de giro de empresas exportadoras, que depois precisam apenas comprovar que fizeram as exportações. Essa exigência, somada a uma cláusula de manutenção de empregados e de proibição de distribuição de dividendos, recairá apenas sobre os US$ 300 milhões que couberam ao BNDES na operação financeira anunciada após o fechamento do mercado.

 

Com o novo empréstimo, a Embraer consolidará ainda mais sua posição de segunda maior cliente do BNDES no século 21, atrás apenas da Petrobrás. São R$ 49,377 bilhões contratados pela fabricante de aviões. Tradicional exportadora da indústria brasileira, usou frequentemente a linha BNDES Exim Pré-embarque. O site do banco lista 48 empréstimos do tipo, contratados entre 2003 e 2014, que somam o valor nominal de R$ 6,614 bilhões.

 

Setor automotivo

 

O diferencial do novo empréstimo de US$ 300 milhões é trazer o sindicato de bancos para tentar chegar ao total de US$ 600 milhões. Segundo Rossi, o mesmo modelo poderá ser usado para apoiar as montadoras de automóveis. O setor automotivo, assim como o aéreo e o elétrico, estão entre aqueles estudados pelo sindicato coordenado pelo BNDES desde abril.

 

No comunicado, a Embraer frisou que a nova operação é “exclusivamente de renda fixa e não altera o atual quadro acionário”. O objetivo foi marcar uma diferença em relação no modelo desenhado pelo BNDES e pelo sindicato para apoiar as companhias aéreas – Gol, Azul e Latam. Nesse caso, as empresas farão emissões de títulos (parte conversível em ações) em ofertas públicas ao mercado, e o banco de fomento garantirá a compra de até 60% dos papéis.

 

Como, no setor automotivo, as empresas são subsidiárias de multinacionais e não tem capital aberto no Brasil, esse modelo não seria viável para as montadoras. Algumas delas são exportadoras e poderão recorrer à BNDES Exim Pré-embarque. (O Estado de S. Paulo/Vinicius Neder e Mariana Durão)