Setor de veículos reage, mas em ritmo lento

O Estado de S. Paulo/Notas e Informações

 

Depois da queda histórica registrada em abril, quando apenas 1,8 mil veículos foram produzidos no País, em maio foram fabricadas 43,1 mil unidades, segundo a associação das montadoras (Anfavea). Em porcentual, a reação em relação a abril foi substancial (+2.232%), mas na comparação com maio de 2019 houve queda de 84,4%. Trata-se, pois, de uma recuperação lenta – o mês passado foi o pior maio para o setor em 35 anos. Tais são os efeitos da pandemia sobre o segmento automobilístico, um dos mais importantes para o comportamento da indústria no País e um dos mais atingidos pela crise sanitária.

 

Nas comparações de médio prazo, em que predominam os indicadores anteriores à pandemia, os números também são ruins, embora em grau menor. Entre os primeiros cinco meses de 2019 e de 2020, por exemplo, a produção caiu 49,2%, de 1,24 milhão de unidades para 631 mil; e cedeu 20% em 12 meses. Ante a diminuição já constatada de quase 600 mil veículos fabricados entre os períodos de janeiro a maio do ano passado e deste ano, a produção de 2020 passou a ser estimada pelas montadoras em 1,67 milhão de veículos, ante 2,95 milhões em 2019. Será uma queda de 40%, muito superior à do Produto Interno Bruto (PIB), estimada pelas consultorias econômicas no último boletim Focus do BC em 6,5%. Se as expectativas se confirmarem, os números da fabricação de autos vão retroagir a 2004. A exportação não trará alívio, em queda de quase 40% entre abril e maio e de 31% entre os primeiros cinco meses de 2019 e 2020. Na Argentina, grande compradora, 10 mil veículos estão estacionados nos portos, pois faltam dólares para pagar as importações.

 

As montadoras têm pouco a fazer além de reduzir a produção, pois as vendas também caíram e os estoques são altos: cerca de 200 mil veículos, suficientes, num mercado menor que o de 2019, para três meses. Apenas 62,2 mil veículos novos foram licenciados em maio, alta de 11,6% em relação a abril, mas queda de 74,7% em relação a igual mês de 2019. Entre janeiro e maio, os licenciamentos de 676 mil unidades foram 37,7% menores que os do mesmo período de 2019. Para superar a crise, não basta haver crédito a juro módico. É preciso que as famílias recuperem emprego e renda e, no momento adequado, se atenue o isolamento social, que mantém os carros nas garagens. (O Estado de S. Paulo/Notas e Informações)