O Estado de S. Paulo
A pandemia do novo coronavírus provocou uma perda recorde na indústria brasileira em abril. Em meio a medidas de isolamento social e paralisação de fábricas, a produção despencou 18,8% em relação a março, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Foi a maior queda da série histórica da sondagem, iniciada em 2002. Segundo o IBGE, houve reduções em 22 das 26 atividades pesquisadas, sendo que 15 delas nunca operaram em patamar tão baixo.
O destaque negativo em abril foi a indústria automobilística, que despencou 88,5% ante março, devido a paralisações e interrupções de várias unidades produtivas. Em dois meses de perdas, a atividade de veículos encolheu 91,7%. Houve redução na produção de automóveis, mas também de caminhões, ônibus, carrocerias e autopeças.
Outras reduções recordes na produção ocorreram nos setores de bebidas, têxteis, calçados, derivados de petróleo e eletrônicos, entre outros.
Na direção oposta, a pandemia impulsionou a fabricação de produtos alimentícios (3,3% ante março), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (6,6%) e perfumaria, sabões e produtos de limpeza (1,3%). Segundo André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, os setores foram impulsionados por hábitos de consumo decorrentes das medidas de isolamento social, com maior demanda por alimentos para consumo no domicílio e produtos de higiene e limpeza.
Macedo observou também que, “dado o aumento no número de óbitos em função da pandemia”, houve um aumento na produção de caixões. Além de caixões, a indústria também produziu mais seringas, agulhas, cateteres, gorros e máscaras protetoras, desinfetante, detergente, sabão, papel higiênico, fralda descartável, instrumentos e aparelhos para transfusão de sangue.
“Medo”
Em nota, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) disse que o mês foi marcado por um “quadro de elevado medo e incerteza”. “Contribuíram para tanto (para a queda do indicador) as medidas de isolamento social, mas também a queda acentuada das exportações de manufaturados, rupturas de cadeias de fornecedores e o quadro de elevado medo e incerteza, bloqueando decisões de investimento e de consumo de muitos bens industriais”, afirmou a entidade.
O tombo já era esperado, mas a fraqueza da demanda e a lentidão do governo na implementação de medidas para mitigar a crise lançam preocupações sobre a retomada, disse José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast, entidade que representa a indústria do plástico, e segundo vice-presidente da Fiesp.
Segundo ele, a fraqueza da demanda já é a maior preocupação agora, tendo em vista que boa parte da indústria conseguiu adotar protocolos de restrição nos contatos sociais para evitar a propagação do novo coronavírus nas fábricas. “A demanda caiu não só porque as pessoas não queriam comprar, mas porque não tinham como comprar. As empresas que tinham e-commerce cresceram”, afirmou Roriz Coelho. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Vinicius Neder)