Diário do Transporte
A melhoria das condições do ar nas principais cidades do mundo por causa das medidas de restrição à circulação para conter o avanço da Covid-19 serão passageiras e, no pós-pandemia, a poluição atmosférica pode até se agravar. Mais pessoas deverão num primeiro momento usar carros e evitar o transporte coletivo para fazer os deslocamentos e na China, onde em dezembro de 2019 foi detectado o novo coronavírus, entre abril e a metade de maio de 2020, os níveis de poluentes como NO2, SO2 e ozônio já são maiores que as emissões do mesmo período de 2019, antes da doença.
A conclusão é de um estudo da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, publicado nesta semana pela revista Nature Climate Change.
Os investimentos em transporte coletivo que não gera emissões durante a operação, como ônibus elétricos, metrô e trens elétricos são apontados como soluções para evitar que o quadro se torne ainda pior.
De acordo com o estudo, as emissões de dióxido de carbono caíram 17% em todo o mundo durante as medidas restritivas pela pandemia até a metade de maio. Nos Estados Unidos, que já foram o epicentro da doença, a redução chegou a 31,6% e no Brasil, atual epicentro da Covid-19, a queda das emissões de carbono foi de 25,2% quando a quarentena era mais restritiva, entre 20 de março de 03 de abril. Se no Brasil houvesse uma política nacional de isolamento, não somente os números de infectados e mortos pela Covid-19, mas também a poluição, iriam ser menores.
E, por causa dos discursos contra o isolamento social, muitos dos quais partindo do próprio presidente Jair Bolsonaro, mais deslocamentos estão sendo feitos e, como resultados, mais pessoas estão morrendo pela Covid-19 e o ar está ficando mais poluído.
Ainda de acordo com a publicação da Nature Climate Change, quando o isolamento era maior, a redução de poluição foi de 25,2% no Brasil. Em 10 de abril a redução da poluição era apenas de 8%.
No Brasil, as emissões pelos setores de transporte e de geração de energia preocupam, mas o problema maior no país, segundo a pesquisa, é o desmatamento, que respondeu por 44% das emissões de CO2 em 2018, outro problema que, segundo levantamentos internacionais é também negligenciado por Bolsonaro.
A China, onde teve o início a pandemia, a queda na poluição por carbono foi de 24%.
Os pesquisadores analisaram os dados oficiais de 69 países que, juntos, respondem por 97% das emissões de poluição.
O ano de 2020 deve fechar com uma redução de emissões entre 4% e 7% em comparação com 2019, mas em 2021, o número deve subir novamente.
A poluição é um dos fatores que mais contribuem para mortes relacionadas à poluição. Somente na cidade de São Paulo, de acordo com um estudo do médico Paulo Salvida, da USP – Universidade de São Paulo, em torno de quatro mil pessoas morrem por ano por problemas agrados pela poluição.
Além do aumento do uso de automóveis, os estímulos governamentais à indústria, como a China já está fazendo para recuperar a economia, devem alavancar os índices de poluição.
Os pesquisadores apontam a necessidade de políticas públicas com destaque para a mobilidade urbana. No mundo, os transportes terrestres são responsáveis pelas emissões de mais de 20% de CO2. Mas se o planeta fosse apenas uma cidade, os deslocamentos por automóveis representariam mais de 80% das emissões do poluente, que é o percentual das causas de poluição nas áreas urbanas. (Diário do Transporte/Adamo Bazani)