Comprar novo ou usado, eis a questão

Jornal do Carro

 

Tempos de economia fragilizada mexem bastante com o mercado de automóveis. A venda de veículos novos tende a cair, enquanto o comércio de usados melhora. A explicação para esse movimento de gangorra é simples: mais cauteloso, o consumidor que, em condições normais, toparia pagar um pouco mais pelo prazer de andar em um 0-km acaba se contentando com um seminovo. “Já deu para sentir um aumento significativo na procura por carros com até três anos de uso, desde o início da pandemia”, afirma Felipe Viana, vendedor de usados com mais de 30 anos de experiência. “Mas negócio fechado, mesmo, quase nada”, diz.

 

O diretor da Kia Stern, Walter Raucci (também dono de uma loja de seminovos), acrescenta outro fator para um provável aquecimento na venda de usados, especialmente do segmento premium. “A Mercedes e a BMW já reajustaram os preços de seus carros (confira mais informações na próxima página). Por isso, os seminovos ganham atratividade.”

 

De acordo com Viana, quem sempre comprou carros zero quilômetro tem um certo receio de partir para um usado. “A pandemia parece ter deixado as pessoas ainda mais inseguras”, diz. Mesmo assim, ele considera o segmento de modelos de segunda mão promissor. “Mais da metade de meus amigos que são vendedores de novos em concessionárias foram dispensados do trabalho durante a quarentena. Uma boa parte deles por causa do fechamento definitivo do estabelecimento”, diz.

 

Seja zero-quilômetro ou usado, um novo carro em casa pode transformar toda a expectativa de alegria num pesadelo econômico sobre rodas. Além da questão do preço, uma compra racional precisa levar muitos outros pontos em consideração.

 

A primeira dica é conferir a tendência de depreciação. Em geral, os três primeiros anos de uso são os mais críticos. Nesse período, a maioria dos carros perde cerca de 50% do valor. É justamente essa média que torna a escolha entre um seminovo e um zero-quilômetro tão difícil. Apesar da desvalorização, na maioria dos casos o novo está coberto por garantia de fábrica durante esse período. Por sua vez, o usado teoricamente já passou pelo período de desvalorização mais crítico, mas normalmente está fora da cobertura, salvo poucas exceções.

 

No caso do zero-quilômetro, os maiores prazos de garantia – a média de um ano até a década de 1990 saltou para três a partir dos anos 2000 – acabaram aumentando o peso do custo de revisões na decisão de compra. Não à toa, carros de marcas diferentes e da mesma categoria chegam a ter cesta de revisões até 60 mil km com valores e conteúdo praticamente idênticos.

 

Mas é preciso ficar atento, pois essa guerra entre as fabricantes acabou criando algumas armadilhas. A Volkswagen, por exemplo, tirou da lista de troca obrigatória o filtro de ar do motor. Já a GM tirou o filtro do arcondicionado tanto do plano de manutenção quanto de boa parte de seus carros.

 

Seguro é fundamental. Antes de fechar negócio, é importante também fazer a cotação do seguro. O valor da cobertura entre modelos de mesmo segmento e preço para um perfil igual pode variar em mais de 100%. O cuidado com o custo da apólice deve ser ainda maior no caso de usados mais velhos.

 

Muitos, aliás, nem sequer são aceitos pelas seguradoras, pois a lei brasileira faculta às companhias o direito de negar a prestação do serviço. Para espantar os donos de usados de alta sinistralidade (ou seja, com alta probabilidade de sofrer um sinistro como roubo ou perda total), muitas seguradoras fixam preços proibitivamente altos.

 

E lembre-se: o processo que leva à compra tecnicamente correta de um carro é demorado e exige fazer muitas contas. Então, paciência, e bom negócio! (Jornal do Carro)