O Tempo
Entrevistado da tarde de ontem, segunda-feira (25) da Live do Tempo, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, apontou que as montadoras têm hoje, em média, quatro meses de estoque de veículos em seus pátios, quando o normal é apenas um. Segundo ele, esse fator, somado à implementação de medidas de segurança, faz com que as fábricas voltem às atividades de forma mais branda.
“Quando paramos a produção, em março, as montadoras tiveram uma preocupação para a volta. Precisávamos garantir a segurança para o trabalho dos nossos colaboradores. Na Anfavea, produzimos um protocolo mínimo para a indústria. Assim, as fábricas se prepararam para voltar às atividades. Algumas começaram a voltar, mas ainda em um ritmo lento, pois temos uma curva de aprendizado para garantir a segurança dos trabalhadores, mas, também, dependemos da demanda. No final de abril, fechamos com aproximadamente quatro meses de estoque. O normal é entre um e um e meio. As montadoras estão voltando de forma mais branda devido a isso. Essas datas dependem dessa equação: a segurança e o nível de estoque”, apontou Moraes.
Com essa ociosidade, o presidente da Anfavea prevê um ano difícil para as indústrias do setor automotivo. Por isso, a instituição vem atuando junto ao governo para minimizar o impacto da recessão, que será grande.
“O setor passa por uma dificuldade muito grande. Temos capacidade técnica de produzir cerca de 5 milhões de veículos por ano. Em 2020, queríamos produzir, 3,2 milhões. Com essa queda, teremos uma ociosidade ainda maior na indústria automotiva até o final do ano. Estamos passando por um momento difícil. A recessão vai ser de 5% ou 7%. Nunca vi uma crise dessa magnitude. É a pior recessão econômica da história. Todos os setores vão ter problema, com risco de aumento substancial no desemprego. Temos que controlar a questão da saúde, de forma coordenada, para ter o menor impacto econômico possível. Vamos enfrentar uma recessão, mas estamos querendo sensibilizar para termos a menor recessão possível”, completou Moraes.
Presidente da Anfavea prevê que Covid-19 afetará até mesmo o transporte público
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, afirmou que o setor automobilístico como um todo sofrerá os impactos do novo coronavírus (Covid-19). Durante a conversa, o mandatário da entidade afirmou que ainda é cedo para fazer qualquer projeção sobre o comportamento do consumidor devido ao patógeno, mas é certo que toda a cadeia automobilística será drasticamente afetada, inclusive o transporte público, uma vez que os consumidores, segundo ele, irão demandar maior segurança.
“Ainda estamos imaginando o futuro. As montadoras estão fazendo pesquisas para entender o comportamento do cliente em relação ao setor. E, com o que sabemos e projetamos, já podemos ficar preocupados com toda a cadeia. Não só os automóveis de passeio, como o transporte público também será afetado, já que o transporte urbano e rodoviário também caíram muito. O que vemos é que o modelo de transporte vai sofrer mudanças, principalmente em relação à segurança”, apontou Moraes.
Um dos motivos pelos quais ele acredita nessa mudança de chave é a exigência do consumidor por segurança. Segundo ele, esse fator poderá ser benéfico para o o nicho de carros populares.
“Acompanhando outros mercados, como Alemanha e China, observamos que existe, sim, uma tendência de as pessoas se sentirem protegidas dentro do próprio carro ao invés do transporte público, pois vão querer usar o carro como bolha de proteção. O carro passou a ter um novo elemento, que é a segurança da saúde. Ainda é cedo para ver como ficará esse consumidor no mundo”, completou o presidente da Anfavea.
Queda de faturamento
Entender o comportamento dos consumidores será vital para as montadoras em virtude da queda de faturamento, conforme explicou Moraes. Isso porque o setor teve queda abrupta de 80% das vendas devido à crise do novo coronavírus.
“A indústria vinha de produção e vendas muito boas, com crescimento de 9% neste ano. Quando recebemos o impacto da economia, todas as montadoras fecharam as plantas em virtude da preocupação com a saúde dos colaboradores. Por isso, tivemos queda na produção, voltando aos números de 1957. Em vendas, de agora para a primeira quinzena de março, tivemos queda de 80% no emplacamento e licenciamento de veículos. Estamos em um momento difícil, e esperamos que o governo tenha uma solução para a crise da saúde”, avaliou Moraes. (O Tempo/Wallace Graciano)