O Estado de S. Paulo
Os números da economia brasileira em abril, primeiro mês completo sob os efeitos do novo coronavírus, mostram a paralisação de setores essenciais, grandes estoques acumulados nas fábricas (24,9%) e no varejo (20%) e vendas fracas no comércio. O IPCA, que apontou deflação de 0,31% no mês – a maior desde agosto de 1998 –, é um dos termômetros da economia parada. Com o brasileiro confinado e consumindo menos, apenas itens como alimentos, bebidas e medicamentos mantiveram as vendas. Um dos setores em que a crise se apresenta de forma mais dramática é o de veículos. A produção de abril foi a mais baixa da história da indústria automobilística, instalada no Brasil desde 1957. As 1,8 mil unidades fabricadas equivalem a apenas um dia de trabalho numa unidade como a da Fiat, em Betim. “Nem em períodos de greve enfrentamos um nível de produção tão baixo”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea. A projeção para as vendas do Dia das Mães, data que só perde para o Natal, é de queda de 59,2% em relação a 2019. O faturamento deve cair de R$ 9,7 bilhões para R$ 5,6 bilhões.
Os indicadores do mês de março já apontavam o tamanho do tombo que a economia brasileira levaria por conta da crise provocada pela covid-19. Mas os números de abril, o primeiro mês completo de paralisação de boa parte das atividades do País, que começam a sair, dão uma dimensão mais clara do problema. E a fotografia que começa a ser revelada aponta para uma catástrofe econômica.
A produção de automóveis no País registrou em abril seu nível mais baixo desde 1957, quando a indústria automobilística se instalou por aqui. Foram apenas 1,8 mil veículos produzidos, uma queda de 99,3% em relação ao mesmo mês de 2019. A produção de todo o mês passado equivale a apenas um dia de trabalho numa fábrica como a da Fiat, em Betim. “Nem em períodos de greve enfrentamos um nível de produção tão baixo no País”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, a associação do setor.
Com as indústrias paradas, os comércios fechados e as pessoas preocupadas tanto com a doença quanto com seus empregos, o consumo de qualquer coisa que não seja alimentos, bebidas ou produtos farmacêuticos praticamente parou. O resultado é que os estoques nas fábricas e nas lojas cresceram absurdamente, atingindo, em pouco tempo, níveis próximos aos registrados na recessão de 2015, segundo dados da FGV. “Não há escoamento da produção”, diz José Jorge do Nascimento, presidente da Eletros, associação que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos.
Um termômetro desse consumo emperrado será o Dia das Mães, comemorado amanhã. A data é considerada pelo varejo como a segunda melhor em vendas no ano, perdendo apenas para o Natal. Mas, este ano, por causa do coronavírus, será bem diferente. A projeção da Confederação Nacional do Comércio (CNC) é de queda nas vendas de 59,2% em relação a 2019 – o resultado deve passar de R$ 9,7 bilhões para R$ 5,6 bilhões.
A economia parada também se reflete na inflação. Em abril, o IPCA registrou queda de 0,31%, a maior deflação desde agosto de 1998. No mês, o que mais pressionou o índice para cima foi o preço dos alimentos e bebidas (1,79%), produtos dos quais ninguém consegue abrir mão. O resto, em geral, teve queda de preço – um reflexo óbvio da falta de demanda.
Esse não é, claro, um problema apenas do Brasil. Nos EUA, por exemplo, os números também são impactantes. Em abril, o índice de desemprego chegou a 14,7%, o maior desde a Grande Depressão, na década de 30.
O problema maior, no caso brasileiro, é que a economia ainda lutava para se recuperar de uma recessão que deixou estragos profundos. Na crise que se estendeu de 2014 a 2016, o PIB brasileiro caiu cerca de 7%. Para este ano, no entanto, já há quem fale em queda de 10%, com os gastos públicos para combater os efeitos da doença fazendo a dívida pública atingir níveis alarmantes. O caminho de volta deve ser longo e trabalhoso. (O Estado de S. Paulo)