AutoIndústria
Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, em entrevista pela internet nesta sexta-feira, 8, disse ser ainda muito cedo para estimar com alguma segurança a produção e o mercado de veículos em 2020. Os cálculos, afirma o dirigente, mudam a cada nova crise política gerada a partir de Brasília e dos índices de proliferação da Covid-19.
“Estamos acompanhando o que já está ocorrendo na Europa, Estados Unidos e Ásia, mas cada país tem suas especificidades”, lembrou Moraes, que revelou projeção de recuo das vendas no ano de 30% da IHS Markit, empresa que no mês passado calculara baixa de 25%.
Os próximos meses serão de indefinições e de um quadro “muito difícil, não só para o setor automotivo, mas para toda a indústria”. “Teremos uma combinação explosiva de pressão dos aumentos de custos com queda de consumo”, disse o dirigente, que considera inevitável o aumento no preço dos veículos.
GM e Toyota saíram na frente e reajustaram na semana passada. “Cada empresa vai ter que equacionar os R$ 2 adicionais por dólar gerados de dezembro até agora.”
Certo mesmo, no entender de Moraes, é que a retomada da produção e vendas será lenta, gradativa, proporcional à demanda e estoques e cercada de cuidados com a preservação da saúde dos cerca de 125 mil trabalhadores diretos das montadoras.
Os pátios das fabricantes e das milhares de concessionárias de todas as marcas abrigavam 237, 3 mil veículos no fim de abril. Mantido o atual ritmo de negócios, essa frota seria suficiente para quatro meses de vendas.
O comportamento do mercado daqui para frente, porém, dependerá da extensão da pandemia e de diversos fatores, pondera o presidente da Anfavea. Ele relaciona a queda do índice de confiança do consumidor, com o temor da perda de emprego, o próprio repasse de custos para o preço final dos veículos, o valor dos automóveis seminovos e as vendas diretas, em especial para locação.
“Cerca de 160 mil veículos foram devolvidos às locadoras, muitos de motoristas de aplicativos, que não têm clientes neste período”, enfatizou.
A restrição e o custo do crédito também aparecem na lista de empecilhos para vendas mais robustas no curto prazo. Moraes criticou os bancos comerciais por não reduzirem as taxas, mesmo com a seguida queda da Selic.
Ao contrário. Exibiu gráfico que mostra que a taxa média anual de CDC para financiamentos de veículos subiu de 19,1% em dezembro de 2019 para 19,8%, quase 5 pontos porcentuais a mais do que praticam os bancos das montadoras.
Protocolo, renovação de frota e rota 2030
A partir de informações colhidas nas matrizes e outras subsidiárias das montadoras, a Anfavea estabeleceu um protocolo comum com 34 regras para a volta ao trabalho e que deve ser seguido nas 65 fábricas de suas associadas – oito voltaram a produzir no mês passado e duas não interromperam suas atividades – espalhadas por dez estados.
As condutas, informadas também no site da associação, estão sendo repassadas aos fornecedores e rede de concessionárias, além de estados e municípios onde as associadas têm unidades.
Questionado sobre se o setor já discute com o governo medidas que possam incentivar a produção de veículos, Moraes admitiu que a renovação de frota segue na pauta da entidade, mas não confirmou se o assunto está sendo encaminhado. “Está no nosso radar. A Alemanha, para se ter ideia, está discutindo agora a renovação de veículos Euro 5 e nós temos rodando aqui carros Euro 0, 1, 2…”, disse.
O dirigente também não foi objetivo na resposta à indagação se há também discussões para alteração no cronograma ou de medidas do Rota 2030 e da nova fase do programa de emissões do Proconve, a P8, prevista para 2022:
“Temos que fatiar esse elefante, que é grande. As primeiras medidas foram no sentido de garantir a proteção do emprego, depois estamos discutindo a manutenção do fluxo de caixa no setor e as próximas deverão abordar os investimentos, que estão sendo congelados pelas associadas, e não cancelados. E eles envolvem também as tecnologias que serão necessárias para cumprirem os marcos regulatórios.” (AutoIndústria/George Guimarães)