O Estado de S. Paulo
São pouco mais de 7 horas em Jaraguá do Sul. Os primeiros funcionários da gigante industrial Weg chegam para trabalhar de carro, ônibus corporativo ou bicicleta, meio de transporte muito utilizado no interior catarinense. O dia a dia da companhia – multinacional que tem unidades em várias partes do mundo, incluindo na Europa e na China – ganhou, desde meados de março, novas regras. Na porta de entrada todos os funcionários têm a temperatura auferida por câmeras ou termômetros sem contato. É só o primeiro sinal de como o coronavírus começou a modificar o dia a dia da economia. São mudanças que devem se estender a várias partes do País.
Como a Weg não chegou a paralisar as atividades de fábricas de Santa Catarina e de São Paulo, teve de agir rápido quando o novo coronavírus chegou ao País, diz o diretor industrial Alberto Yoshikazu Kuba. A vantagem foi a experiência da unidade chinesa da empresa, onde a pandemia começou dois meses antes. Ao contrário do que ocorre hoje no Brasil, o governo federal chinês determinou protocolos claros às indústrias. O uso de máscaras, álcool em gel, a medição de temperatura e distanciamento social foram exigências chinesas replicadas por aqui. Só em Jaraguá do Sul a Weg tem 15 mil funcionários.
Tanto na China quanto no Brasil, a empresa foi razoavelmente pouco afetada pela pandemia. “Ficamos dez dias parados na China”, informa Kuba. Por aqui, a Weg concentra suas operações no interior de Santa Catarina e de São Paulo.
Em reunião promovida pela ONG Comunitas na sexta-feira entre governos estaduais, o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, disse que a pressão do sistema de saúde é maior nos municípios mais próximos à capital e que a retomada das atividades levará isso em conta. “De maneira geral, os casos estão mais concentrados nas capitais”, diz Regina Esteves, presidente da Comunitas.
Montadoras
No ABC paulista, multinacionais se organizam para voltar ao trabalho. A Scania, que produz ônibus e caminhões em São Bernardo do Campo, retoma atividades amanhã. É a primeira montadora paulista a retomar operações desde que quase todas as empresas do setor (63 ao todo) fecharam as portas, por conta própria, para evitar a propagação do novo coronavírus.
O preparo da Scania, segundo o vice-presidente de recursos humanos, Danilo Rocha, segue normas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de órgãos públicos da área de saúde nas esferas federal, estadual e municipal. Para organizar a retomada, a empresa também se baseou em protocolos de países como China e Alemanha.
“Analisamos todos os procedimentos desde o momento em que o funcionário sai de casa para vir à fábrica até a hora em que ele retorna, seguindo os pilares de segurança, limpeza e mudança de hábitos”, diz Rocha.
A primeira medida adotada foi a divisão dos funcionários em dois turnos de trabalho para diminuir a densidade de pessoas. Antes da pandemia, a fábrica operava em turno único, das 7h às 16h15. Agora serão dois, com metade do pessoal mantendo esse horário e a outra trabalhando das 17h30 à 00h20.
A frota de 70 ônibus que leva funcionários para a fábrica foi duplicada para que todos possam sentar sozinhos. Na escada do veículo há um tapete com produto para higienizar os calçados e, a seguir, o primeiro recipiente com álcool gel para as mãos, produto que está na portaria, na linha de montagem, nos banheiros e refeitórios.
Na portaria há marcações para a manutenção de distância entre os trabalhadores, enfermeiros para medir a temperatura e distribuição de máscaras. O café da manhã passa a ser servido em kits e não mais em uma sala para evitar aglomerações.
Procedimentos
Há alguns dias, os funcionários receberam em casa uma cartilha com todos os dados e procedimentos a serem seguidos daqui para frente. O material, informa Rocha, acabou sendo copiado até pela matriz sueca e empresas de outros países.
O número de vezes em que a fábrica passa por severa faxina passou de duas para seis. “A primeira semana de retorno será mais para orientações, para a adaptação ao que passa ser o ‘novo normal’, sem aglomerações e com muito cuidado à higiene”, diz Rocha. A Scania emprega 4 mil pessoas, mas a maior parte do pessoal administrativo seguirá em home office.
A Weg, que já está mais adiantada no processo de retomada, diz que reforçar as recomendações nunca é demais. Tanto na fábrica quanto no escritório, a estação do trabalho é interrompida, de hora em hora, com recomendações de higienização das mãos e distanciamento social. É um “novo normal” que ainda levará um tempo para ser totalmente assimilado. (O Estado de S. Paulo/Fernando Scheller e Cleide Silva)