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Enquanto desistem de participar do Salão do Automóvel de São Paulo, fabricantes preparam novidades em outras feiras do setor. Um exemplo é a exposição de Chicago, aberta ao público no último sábado (8) com a exibição do renovado Chevrolet Equinox 2021.
A marca é uma das que não vão participar do salão paulista, em novembro. Ao anunciar as ausências, grandes montadoras expõem, indiretamente, um dos maiores problemas do setor automotivo nacional: a perda de prestígio político.
Em um passado recente, estar no evento significava passar um recado ao governo, fazer lobby e mostrar pujança, além de ouvir afagos e anúncios em prol das fabricantes.
O salão sempre foi um palco confortável para chefes de Estado, ministros, governado- res e prefeitos: um ambiente controlado, sem protestos.
Em 2018, o então presidente Michel Temer (MDB) assinou o programa de incentivo Rota 2030 no São Paulo Expo (zona sul), horas antes de o espaço ser aberto ao público.
Em 2012, quando o salão ainda era no Pavilhão de Exposições do Anhembi (zona norte), Dilma Rousseff (PT) aproveitou a abertura para anunciar a prorrogação da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros.
Quatro anos antes, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passeou ao lado do então governador de São Paulo, José Serra (PSDB), pelos estandes da mostra.
Em 1996, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defendeu acordos comerciais e disse que os veículos expostos eram resultado do amadurecimento nas relações entre governo, fabricantes e trabalhadores.
Quando empresas do porte de GM, Hyundai e Toyota abrem mão do Salão de São Paulo, mostram-se mais distantes de Brasília e fazem a Anfavea (associação das montadoras) acender a luz de alerta.
A entidade é quem leva as demandas do setor ao governo. O diálogo com o poder, que começou tenso na gestão de Jair Bolsonaro (sem partido), sempre teve tons mais amenos devido à proximidade propiciada na exposição.
Tanto a Anfavea como a Reed Alcântara Machado (organizadora do evento) tentam salvar o salão e convencer os desistentes a mudar de ideia.
O alto investimento necessário para exibir é uma das justificativas das marcas quando decidem não ir a um salão. Empresas passam por restrições orçamentárias devido a aportes de capital no desenvolvimento de veículos elétricos, por exemplo.
Contudo, há formas de reduzir gastos, como circos itinerantes para salões internacionais. As estruturas são desenvolvidas para viajar o mundo, solução que reduz despesas com logística, por exemplo.
A Renault adota essa estratégia, que pode incluir até os uniformes dos atendentes. O estande que o público brasileiro viu nas últimas edições do evento de São Paulo é o mesmo que a marca exibiu, dois meses antes, no Salão do Automóvel de Paris.
Os organizadores estão dispostos a negociar. Por ser o maior evento do setor na América Latina e por todo o componente político que faz parte do pacote, o Salão de São Paulo permaneceu na programação das grandes empresas. Ao perder relevância, perde também a oportunidade de ser um acontecimento político. (Folhapress)