Gazeta do Povo/Bloomberg
Este ano, quando pela primeira vez em 70 anos a Ford foi buscar fora da empresa um diretor financeiro, o escolhido veio com um pedigree impressionante: um currículo que incluía os melhores empregos na Amazon e Snap. Ele também veio com um ajudante de pedigree. E peludo.
Passeie em qualquer dia pelo escritório de paredes de vidro do chief finance officer Tim Stone, no 12º andar da sede mundial da Ford – em Dearborn, Michigan -, e deitado a seus pés estará seu animado pastor australiano de 7 anos de idade. Finley tem seu próprio crachá e o astuto título (concedido por seu dono) de “CFO” [chief furry officer, na sigla em inglês]. “Ele tem uma descrição muito clara do trabalho, que é: alto astral e estresse baixo”, explicou Stone, “e ele arrasa todos os dias!”
Finley é mais do que um bom garoto. Ele é o mascote de um programa piloto oferecido a 1.300 funcionários da Ford, permitindo que eles levem seus cachorros para o trabalho. É parte de um esforço maior da montadora para atrair talentos tecnológicos difíceis de obter (e manter) na indústria automotiva – outras iniciativas incluem um redesenho menos hierárquico e mais atrativo.
A Ford já contratou mais de 3 mil funcionários com habilidades avançadas de computação, mas ainda precisa de centenas de engenheiros de software, cientistas de dados, desenvolvedores de aplicativos, especialistas em mídia digital e muito mais, escreveu a diretora de talentos Julie Lodge-Jarrett em um post recente.
Tendência
Há tempos, gigantes da tecnologia e startups de Seattle e do Vale do Silício já recebem os amigos de quatro patas como uma maneira de melhorar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal dos funcionários. Estudos mostraram que o acesso ao melhor amigo do homem durante todo o dia pode reduzir o estresse, melhorar a produtividade e, possivelmente, até reduzir a rotatividade de funcionários.
Existe até mesmo um ranking das companhias mais amigas dos cães feita pela Rover, uma empresa de serviços para animais, com sede em Seattle. A lista está cheia de empresas da costa oeste dos EUA, enquanto existem poucas empresas do centro-oeste e zero montadoras.
No topo da lista está a Amazon, que possui 7 mil cães registrados, entre os quais já esteve Finley. Em seu campus em Seattle, a gigante do varejo on-line tem uma proporção de 7 pessoas para cada cachorro, e oferece até mesmo opções de creche, higiene e almoço para os bichos.
Com essa bagagem, Stone, que passou duas décadas na Amazon, não pensou duas vezes antes de levar seu amigo peludo para dentro dos limites conservadores da sede da Ford, assim que chegou à empresa, em abril. “Foi uma mudança cultural”, diz Tim Stone, “fui o primeiro a trazer meu cachorro todos os dias e o exemplo vindo “de cima” é importante”.
Parte da missão do CFO na Ford é desafiar as convenções, conforme a empresa trabalha com uma reestruturação de US$ 11 bilhões e abraça carros elétricos e autônomos – e o seu assistente canino ajuda a tirar as pessoas de sua zona de conforto. “Isso muda os diálogos nas reuniões”, afirma Stone. “Quando você tem um cachorro na sala, tudo fica mais fácil.”
O cachorro Finley também está ajudando Stone a fazer mais amigos em seu novo emprego, quebrando barreiras na empresa automobilística de 116 anos, conhecida por sua hierarquia. “As pessoas conhecem o cachorro muito mais do que me conhecem, isso torna o CFO mais acessível”, brinca o dono.
A política de cães da Ford ainda está em fase de “filhote”. A medida continua ainda está em estágio experimental, não há creche para os cachorros nem tigelas de guloseimas oferecidas por recepcionistas, como na Amazon, e os peludos não são permitidos em áreas comuns, como lanchonetes e salas de conferências. Ainda assim, diz Stone, Finley está ensinando à Ford alguns truques novos: “isso mudou totalmente a dinâmica de várias maneiras”, disse ele, “e relaxa todo mundo”. (Gazeta do Povo/Bloomberg/Keith Naughton)