Veículos importados: na contramão do mercado

AutoIndústria

 

No final de 2017, quando o Inovar-Auto e a cota para importação inserida no programa estava se encerrando, o então presidente da Anfavea, Antonio Megale, previa para o ano seguinte uma participação de 15% dos veículos importados no mercado nacional. Contrariando todas as expectativas daquela época, as vendas não reagiram conforme o esperado em 2018 e este ano estão desacelerando mês a mês.

 

Após encerrar 2018 com participação média de 12,1%, os importados registraram em novembro fatia de apenas 9,7%, o menor índice desde maio de 2007, quando detiveram 8,9% das vendas internas totais. No acumulado dos 11 meses, o índice é de 10,6%, também menor do que os 11,1% da média anual de 12 anos atrás.

 

Enquanto a demanda por modelos nacionais cresceu 10,1% no acumulado até novembro, com 2,26 milhões de emplacamentos, a relativa aos importados caiu 4,9%, baixando de 282 mil para 262,2 mil unidades. Tanto as montadoras como os importadores sem produção local estão trazendo este ano menos veículos de fora.

 

O câmbio está entre os principais fatores apresentados pela Abeifa, Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores, como desacelerador do mercado. Ante previsão de crescimento para este ano, as associadas da entidade acumulam queda de 8,7% até novembro, com 31.218 unidades importadas licenciadas, contra as 34.193 unidades do mesmo período do ano passado.

 

José Luiz Gandini, presidente da Abeifa, diz que a permanência do dólar acima de R$ 4 tem tido impacto devastador no mercado de importados. A entidade, inclusive, reivindica a redução do Imposto de Importação, hoje em 35%, medida considerada essencial para que os importadores tenham alguma competitividade interna. “O setor vive um momento dramático, de inviabilidade do negócio”, resume o empresário.

 

No grupo dos quatro maiores importadores da Abeifa, só a Volvo Cars registra crescimento, ainda que pequeno (4,6%), este ano. As vendas de importados da Kia caíram 33,2% e as da BMW tiveram queda de 46,7%, enquanto as da Land Rover recuaram 1,6%.

 

Também as associadas da Anfavea que só importam, como a Mercedes-Benz Automóveis, estão com negócios em baixa. As vendas da fabricante alemã caíram 19,2% no acumulado até novembro, baixando de 11,2 mil para 9 mil automóveis importados.

 

A Anfavea também atribui a desaceleração do mercado de importados à alta do dólar, mas lembra que o fluxo de carros vindos do México, apesar do livre comércio, diminuiu este ano em função da regra de origem. A queda foi de 34% até outubro.

 

É que para terem alíquota zero, os veículos e autopeças contemplados no acordo com o México devem cumprir com um índice mínimo de 40% de conteúdo local. E há controversas quanto a esse cálculo. Segundo as montadoras, estão sendo ignorados processamento local de matérias-primas vindas de fora, como o aço, o que dificulta a obtenção do índice exigido.

 

Também vale lembrar que em função do Inovar-Auto, que instituiu acréscimo de 30 pontos porcentuais no IPI dos carros importados fora do regime de cota, houve evolução significativa dos veículos brasileiros, tanto no que diz respeito à redução da emissão de poluente e de consumo de combustível, como em itens de segurança, conforto e conectividade.

 

Com isso, os modelos importados que concorriam com os carros nacionais perderam a competitividade que tinham antes em termos de relação custo/benefício, o que levou os importadores a atuarem em faixas de preços mais elevadas, principalmente em nichos de mercado. (AutoIndústria/Alzira Rodrigues)