O Estado de S. Paulo
Notícias positivas na economia brasileira e no exterior nos últimos dias fizeram com que o Ibovespa tivesse alta de 1,11% ontem, com recorde de 112.199 pontos, o dólar recuasse 0,62%, para R$ 4,09, e analistas projetassem um início de 2020 com mais fôlego do que se previa há alguns meses. O risco país caiu ao menor nível em sete anos. No pacote de boas novas estão a mudança de perspectiva da nota do Brasil de estável para positiva pela Standard&Poors, o novo corte da taxa Selic e a perspectiva de acordo comercial entre EUA e China. Assim como a indústria e o varejo, o setor de serviços também ficou no azul em outubro, com alta de 0,8% em relação a setembro, segundo o IBGE. “A melhora desse setor é um importante indicador do ritmo de recuperação”, disse o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman.
Fatores como a mudança de perspectiva da nota do Brasil (de estável para positiva) pela agência Standard&Poors, o novo corte nos juros básicos da economia e a perspectiva de uma trégua na briga entre China e Estados Unidos levaram a Bolsa brasileira a bater novo recorde e derrubaram o risco país ao menor patamar em sete anos.
Juntamente com a alta acima do esperado dos serviços (leia mais na pág. B4), esses indicadores ajudam a traçar o cenário de que a economia está mudando de humor, segundo analistas ouvidos pelo Estado. A melhora é lenta, dado o tamanho da queda que o País enfrentou nos anos recentes, mas aponta que 2020 pode começar com mais fôlego do que se antecipava há alguns meses.
O Credit Default Swap (CDS) de cinco anos do Brasil, que serve de medida para o risco país, chegou a ser negociado na tarde de ontem a 100,8 pontos, no menor nível desde outubro de 2012, segundo a IHS Markit. O Ibovespa encerrou com alta de 1,11%, cotado a 112.199 pontos, nova máxima histórica. Já o dólar recuou 0,62%, para R$ 4,09.
Para o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, o indicador de serviços pode injetar um pouco de otimismo para 2020. “Olhando do lado da oferta, muito da fraqueza da economia se dá, porque o setor de serviços tem estado muito ruim. A melhora deste setor é um importante indicador do ritmo de recuperação”, diz.
De acordo com Schwartsman, o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 já está dado, de cerca de 1,1%, mas é possível projetar um avanço de até 2,5% para o ano que vem. “Não é um baita resultado. Depois de tudo que o País caiu, é pouco, mas mostra alguma melhora.”
O economista Bruno Lavieri, da Consultoria 4E, lembra que o consumo das famílias pode continuar crescendo no ano que vem, embalado pela nova queda dos juros básicos, para 4,5%, anunciada na quarta-feira pelo Banco Central. “Em 2019, as famílias ficaram receosas de se endividar, mas há espaço para o consumo crescer. O investimento também pode se recuperar.”
Para Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector, o País deve transitar da fraqueza de 2019 para um crescimento moderado em 2020. “A expectativa é que haja um desempenho melhor tanto da indústria quanto do setor de serviços, uma pequena recuperação dos salários e do emprego, apesar de a situação fiscal do País ainda seguir preocupante e um fator de potenciais crises futuras”, diz.
Para ele, o risco interno mais delicado é não haver um aprofundamento do debate sobre a reforma tributária. “Com as eleições no segundo semestre, há pouco tempo para que as discussões amadureçam.”
Do lado externo, os economistas também lembram que ainda há muitas incertezas com o desempenho das principais economias do mundo em 2020. E as eleições americanas no ano que vem também poderiam fazer com que o presidente dos EUA, Donald Trump, avance contra a China no comércio exterior, mesmo após as sinalizações recentes em sentido contrário (leia mais na pág. B11). (O Estado de S. Paulo/Douglas Gavras, Altamiro Silva Júnior, Luís Eduardo Leal, Simone Cavalcanti, Karla Spotorno e Gabriel Bueno da Costa)