O Estado de S. Paulo
A indústria automobilística brasileira registrou em novembro o pior desempenho em produção para o mês em quatro anos. Deixaram as fábricas 277,5 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, número 7,1% menor que o de novembro de 2018 e 21,2% inferior ao de outubro. Em novembro de 2016 foram produzidos 219,1 mil veículos.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos de Moraes, credita o desempenho ruim ao fato de novembro ter três dias úteis a menos que outubro – mês que também apresentou o melhor resultado em produção neste ano, com 288,5 mil unidades.
Naquele período, Moraes afirmou que várias empresas estavam fazendo estoques porque em dezembro a maioria delas dá férias coletivas aos funcionários.
Para o presidente da consultoria Bright, Paulo Cardamone, as montadoras acumularam altos estoques em outubro (365 mil veículos, equivalentes a 45 dias de vendas) e desaceleram as máquinas no mês passado. O estoque atual é de 329 mil unidades, ou 41 dias de vendas. “Em dezembro a produção esperada é 150 mil unidades para finalizar ajuste de estoques”, afirma.
Também há o impacto das exportações para a Argentina, que caíram 52% até agora, para 196,5 mil unidades. Juntando os demais mercados, a queda no ano é de 33,2%, para 399,2 mil unidades, ante 597 mil nos 11 meses de 2018.
Moraes afirma ainda haver no momento “preocupação” com os distúrbios que ocorrem em vários países da América do Sul, em especial Chile, Colômbia e Peru, importantes parceiros do setor.
No acumulado do ano, a produção está 2,7% maior que a de 2018 e, nas projeções na Anfavea, deve chegar ao fim de dezembro com crescimento de 2%, num total de 2,94 milhões de unidades.
Menos vagas
O setor deve encerrar o ano com quase 5 mil dispensas. Só no mês passado foram fechadas 1,3 mil vagas, a maioria de funcionários da Ford de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que fechou as portas. Também houve abertura de Programas de Demissão Voluntária (PDVs) por algumas empresas, informa Moraes.
“Há uma questão estrutural do emprego, que veio para ficar e não só no Brasil, mas em outras regiões, como a Europa”, diz Moraes. “O sistema de produção e o modelo de negócios do setor automotivo mudou, e o perfil dos trabalhadores também terá de mudar.”
Moraes afirma ainda estar preocupado com o aumento de 10% do preço do aço em janeiro pedido pelas usinas. “Se confirmado, será na veia, para nós e para as autopeças”, diz ele, para quem um reajuste desse porte vai impactar nos custos do setor e há muita dificuldade em repassar para os preços dos veículos.
Mais carros
Por outro lado, a Anfavea está otimista em relação às vendas em 2020 que, para alguns executivos do setor deverão crescer entre 5% e 10%. Junto com o Webmotors, maior portal de vendas de carros no País, a entidade realizou no mês passado pesquisa de intenção de compras com 6.727 visitantes do site
Do total de entrevistados, 80% têm carros e 88% disseram ter intenção de trocar ou comprar o primeiro automóvel no próximo ano, por um modelo usado ou novo. “A leitura da pesquisa é um sinal positivo e confirma que há um número significativo de consumidores que tem intenção de comprar um carro”, afirma Moraes.
Segundo o presidente da Webmotors, Eduardo Jurcevic, o portal recebe em média 30 milhões de visitas ao mês. Em novembro foi registrado recorde histórico de pessoas enviando propostas de compra
“Foram 71 mil propostas por dia útil, enquanto nossa média no ano foi de 54 mil propostas”, informa Jurcevic. Para ele, a maior oferta de crédito e as vendas na semana da Black Friday, com várias ofertas, ajudaram nesse desempenho. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva e André Ítalo)