O Estado de S. Paulo
As fabricantes alemãs Mercedes-Benz e Bosch anunciaram ontem, em São Paulo, parceria inédita para a criação de um centro de testes veiculares com serviços não disponíveis no País atualmente. O projeto será inaugurado em 2021 e deve acelerar o desenvolvimento de produtos e tecnologias ligadas principalmente à segurança, eficiência energética, assistência ao condutor e mobilidade.
O centro também será preparado para demandas futuras envolvendo testes e adaptações de veículos elétricos, híbridos e autônomos. Segundo os dois grupos, que dividirão o investimento inicial de R$ 70 milhões no projeto, a estrutura será similar às mantidas pelas marcas em países como Alemanha, China, Estados Unidos e Japão.
A Mercedes vai ceder parte da área de seu campo de provas inaugurado em 2018 em Iracemápolis (SP), onde mantém sua fábrica de automóveis. Hoje voltado a testes de caminhões e ônibus da marca, será ampliado para atender novas demandas tecnológicas e outras fabricantes de veículos e autopeças.
“Não será mais preciso enviar veículos para testes fora do País”, diz o presidente da Mercedes-Benz do Brasil e da América Latina, Philipp Schiemer. “Além da economia de altos custos para essas operações, o centro possibilitará maior rapidez nos desenvolvimentos e tornará o Brasil mais competitivo.”
O executivo cita a experiência da empresa que, ao realizar testes no País conseguiu antecipar em um ano o lançamento do caminhão Actros, apresentado no mês passado e que tem como maior novidade tecnológica a substituição dos retrovisores por sistema interno de câmeras.
Besaliel Botelho, presidente da Robert Bosch na América Latina, ressalta que a parceria única no mundo entre as duas marcas – uma fabricante de veículos e a outra de autopeças – “vai beneficiar toda a cadeia automotiva na região. As pistas e laboratórios de testes poderão ser alugados por qualquer empresa de caminhões, ônibus, automóveis, motos e máquinas agrícolas. Para ele, “o Brasil vai ganhar ainda mais importância no mundo na área de pesquisa e desenvolvimento de veículos”.
Ao justificar a criação do consórcio, que terá gastos e lucros compartilhados, Schiemer afirma que “as demandas atuais do setor em termos de novas tecnologias de eficiência energética, segurança e conectividade exigem testes que requerem altos investimentos e nenhuma empresa consegue fazer isso sozinha, precisa de parcerias”.
Novas normas
A necessidade do centro veio principalmente com demandas do programa Rota 2030 (que estabelece metas de eficiência energética), regras de emissões do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) que entrarão em vigor em 2025 e maior segurança para atender as normas do Latin NCAP, que avalia o desempenho dos carros em testes de colisão.
O campo de provas da Mercedes recebeu aportes de R$ 90 milhões e dispõe hoje de 16 pistas, 14 delas para testes de durabilidade (exclusivos da marca), uma de conforto acústico e térmico e outra de terra, numa área total de 12 quilômetros.
O consórcio construirá mais cinco pistas, boxes de oficinas e laboratórios, escritórios individualizados, estacionamento para protótipos confidenciais de veículos em desenvolvimento e dependências de apoio.
Os primeiros testes a serem feitos no novo centro serão os do Programa Eletrônico de Estabilidade (ESP), que passará a ser obrigatório nos novos veículos brasileiros a partir de 2022. É uma espécie de evolução do ABS que atua diretamente nos freios e evita que o motorista perca o controle da direção em curvas ou desvios de trajetória.
Outros sistemas que poderão ser testados serão os de frenagem automática de emergência, proteção de pedestres e ciclistas, sistemas de assistência ao condutor, desempenho de novos combustíveis (como bioetanol), entre outros. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)