Estradão
O motor V8 da Scania foi lançado em 1969 com potência de 350 cv. O modelo chegou como o mais potente propulsor diesel daquele ano na Europa.
Mas o projeto começou em 1960, quando o chefe de design dos motores diesel da Scania, Bengt Gadefelt, tomou a decisão de desenvolver um motor de oito cilindros com arquitetura em V. Isso atendia à necessidade de propulsores mais fortes.
No início da década de 60, a Scania contava com seis motores de 8 e 11 litros. Atingindo potência máxima de 250 cv.
Enquanto o mercado pedia por motores mais fortes, a tendência por caminhões compactos de cabine cara-chata aumentava. Aí veio o desafio de encaixar um motor em V em uma cabine mais curta.
O conceito desenvolvido por Gadefelt e a equipe de engenharia resultou em um motor V8 de 14,2 litros. Esse powertrain tinha como atributo a alta potência em baixa rotação.
O motor V8 da Scania foi equipado no caminhão LB140. Que rapidamente foi aclamado pela indústria. Os clientes também gostaram da aparência do motor em V com cabeçotes individuais por cilindro e da potência de 350 cv. Combinada a uma curva de torque em baixas rotações.
A cereja do bolo foi o ronco do motor, ruído que até hoje é uma das maiores caraterísticas do V8.
Foram produzidos até agora mais de 170 mil motores V8 de 14 litros, o que fez dele o mais vendido no segmento de alta produção.
Mas o futuro do motor V8 da Scania foi ameaçado durante o final da década de 80, quando a fabricante trabalhava no desenvolvimento da Série 4 lançada em 1995.
O desafio de montar um V8 num bloco de motor para esse projeto não era tarefa simples e dividiu opiniões entre a engenharia. Uns eram favoráveis a ideia de motores de 11 e de 14 litros que tirassem o máximo de proveito dentro da nova realidade da época que era a tecnologia de injeção, necessária para atender à Euro 3, norma de emissão de poluentes vigente na época na Europa.
Por outro lado, outro time enfatizou a importância do motor V8 da Scania como valor de imagem da marca.
Para resolver o problema, a engenheria desenvolveu uma nova configuração de motor: uma arquitetura em V com ângulo de 72°, mais estreito. Como o motor de 72° teria um layout muito complexo, especialmente o virabrequim, optou-se por desenvolver um motor com ângulo de 90°.
Motor V8 da Scania ganha 16 litros
O motor com ângulo de 90° e de maior capacidade, além de atender o desafio da legislação de emissões vigente na época, também se adaptou aos requisitos das leis ambientais que foram chegando com a Euro 4, 5 e 6.
Com a chegada do novo milênio, as potências evoluíram para 480 cv e 580 cv a 1.900 rpm e com torque de 275,5 mkgf, mais que o dobro do V8 original de 1969.
Outro passo importante que a Scania deu com o novo motor foi na modularização. Muitos componentes, incluindo o cilindro, eram os mesmos utilizados nos motores em linha.
O conceito modular é de enorme importância para sinergias no desenvolvimento e produção da Scania, mas também é benéfico para os clientes, pois facilita o serviço, além da reposição de peças.
Outra realidade para o motor V8
Após o lançamento do propulsor de 16 litros, o trabalho continuou no intuito de aprimorar sua capacidade.
Em 2005, a empresa lançou sua mais ampla linha de motores, incluindo V8 de 500, 560 e 620 cv para motores Euro 3, Euro 4 e Euro 5 com até 306 mkgf de torque.
Com a legislação Euro 6 se aproximando na Europa, a Scania disponibilizou recursos para as novas tecnologias dos motores. Como recirculação dos gases de escape, turbo geometria variável, injeção de combustível de alta pressão common rail, redução catalítica seletiva. E mais filtragem de partículas com uma tecnologia, exclusiva de gerenciamento do motor e de exaustão.
O volume passou de 15,6 para 16,4 litros. E um novo bloco de cilindros mais leves e resistentes em CGI (ferro de grafite compactado) foi introduzido. O que permitiu a Scania desenvolver seu caminhão com o motor mais potente do portfólio, um V8 de 730 cv de potência e 357 mkgf de torque.
Quando a Scania introduziu os caminhões da gama Streamline em 2013, a empresa também apresentou sua segunda geração de motores V8 Euro 6 com potência de 520 cv, 580 cv e 730 cv.
E em sintonia com as demandas ambientais, a marca do grifo continuou a desenvolver motores que podiam funcionar com uma variedade de combustíveis renováveis, com isso todo o motor V8 da Scania produzido desde 2015 pode operar com biodiesel-HVO.
O V8 no Brasil
Por aqui, o motor V8 da Scania ainda mexe com o o imaginário de caminhoneiros e transportadores. O caminhão com motor mais potente com produção nacional é o de 620 cv que chegou com visual renovado. E para celebrar os 50 anos do motor V8, a Scania lançou em outubro uma Série Especial com um único espécime do R 620.
O modelo foi comprado pela empresa Zaqueu Transportes.
Com a chegada da nova geração de caminhões que se iguala aos europeus, o Scania R 620 chegou repaginado no visual e tecnicamente pronto para encarar atividades mais parrudas como a fora de estrada.
V8 nos campos irregulares
O caminhão R620 é o único espécime com motor V8 da Scania no Brasil. E para atender às demandas dos campos fora de estrada ele ganhou o sobrenome XT, direcionado aos caminhões da marca com vocação mais severa.
Esse caminhão sai de linha com um pacote XT que inclui o vão mais alto em relação ao solo, para-choque de ferro na parte frontal e grade protetora dos faróis.
O motor V8 da Scania para esse caminhão é o DC 16, de 16 litros com potência de 620 cv e torque de 306 mkgf que trabalha com a transmissão Opticruise de 14 marchas (sendo 2 superlentas).
Motor ainda era eficiente
Esse propulsor possui árvore de manivelas mais curta, isso significa que seu índice de torção é reduzido, logo, mais durável. O bloco em V, oferece algumas vantagens, como a melhor passagem de ar pelo sistema de arrefecimento por causa dos dois cilindros adicionais.
A eficácia do motor V8 melhora com o turbo de geometria variável que consegue uma sobrealimentação uniforme em qualquer regime de rotação.
Tamanha robustez fez do R 620 um caminhão versátil. Que já provou ser um excelente aliado das empresas e dos motoristas rodoviários que necessitam de velocidade média e força. E ainda ter um consumo de combustível amigável.
Nas pistas fora de estrada, o motor V8 da Scania tem força de sobra para vencer as imperfeições.
Andamos no veículo em uma rota acidentada e com lama, incentivos para pisar com empolgação no pedal do acelerador.
Fato é que motor V8 da Scania para uso extremo encara o desafio, em função do seu torque. E com isso manter o caminhão em velocidade de cruzeiro por mais tempo, sem a necessidade de retomadas mesmo em situações de asfalto irregular.
Além disso, o caminhão tem bloqueio de diferencial, sendo possível bloquear todas as rodas para garantir mais tração. E ir dosando com o bloqueio parcial, até sair da situação de risco a patinagem.
A suspensão é equilibrada. A traseira é pneumática e dianteira a molas, adequada para quem vai trafegar por terrenos mistos.
Impressões do motor V8 da Scania
Estávamos transportando uma escavadeira num implemento tipo prancha. Por isso, o caminhão estava leve perto do que é capaz de carregar. Seu Peso Bruto Total Combinado (PBTC) é de 78 toneladas, ou seja, não estava nem com 40% de sua capacidade, por isso sobrou motor.
Nos terrenos mais inclinados, mesmo carregado, o veículo não volta para trás por causa de sua transmissão que integra sistema de partida em rampa.
Dirigir um V8 requer certa habilidade. O segredo é pisar leve no pedal do acelerador. Porque a força do motor V8 da Scania é tamanha que se não dosar o veículo sai trotando bem aos moldes de um cavalo, só que não mecânico.
Por isso, a Scania tratou de colocar segurança extra ao caminhão que tem de série o freio retarder. Que nessa experiência já deu conta, no primeiro estágio, de segurar o caminhão que estava em descida.
Saindo do trecho de lama, já com acesso para a rodovia, o que domina é a potência. Apenas uma encostada no pedal do acelerador o caminhão, em apenas 9 segundos, chega aos 80 km/h.
Exclusivo para o motorista
A bordo da cabine o sentimento é de aconchego. Próprio para quem vai dirigir por horas. De série é equipado com ar condicionado digital, defletor de ar digital e controle da suspensão pneumática. E cama com colchão com espuma de alta densidade, rádio com GPS integrado em tela multimídia, luzes de cabine individuais e geladeira.
E por se tratar de um caminhão com motor V8 da Scania, alguns detalhes de acabamento são exclusivos. Como o banco com acabamento em couro e o símbolo do V8 nas portas do veículo, no painel e no tapete. (Estradão)