Petrobras cortará investimentos e venderá mais ativos

O Estado de S. Paulo

 

Plano estratégico. Em divulgação bem recebida pelo mercado, companhia pretende reduzir aportes em 10% entre 2020 e 2024, para US$ 75,7 bilhões, e priorizar investimentos na produção do pré-sal; vendas de ativos vão continuar e devem atingir US$ 30 bi em 5 anos

 

O primeiro plano estratégico da Petrobrás no governo Bolsonaro, de 2020 a 2024, trouxe investimento 10% menor do que o anterior – de US$ 84,1 bilhões passou para US$ 75,7 bilhões – e também reforçou o foco da empresa no pré-sal. Esse valor se aproxima do patamar do plano lançado em 2017 (US$ 74,5 bilhões), quando a petroleira começava a sair da crise.

 

O mercado financeiro recebeu bem o número, por reconhecer comprometimento da empresa com a disciplina de capital. Para um especialista do setor, no entanto, chamou a atenção o lento crescimento da produção. Segundo relatório do banco BTG Pactual, o nível de investimentos abre espaço para o pagamento de US$ 5,1 bilhões em dividendos pela companhia no ano de 2021. O banco disse que o dado foi uma “surpresa positiva”.

 

Simultaneamente à queda do investimento, ganhou força o programa de venda de ativos. A previsão é que novos projetos sejam bancados com o dinheiro dos desinvestimentos – até US$ 30 bilhões em cinco anos –, sem que seja necessário contrair dívida. Até então, a ordem era se desfazer de US$ 26,9 bilhões em negócios não estratégicos.

 

Vendas

 

Não foram informados detalhes das privatizações. A Petrobrás já anunciou a intenção de passar oito refinarias à iniciativa privada, além de campos terrestres e marítimos.

 

Neste ano, a empresa já se desfez de ativos de grande porte. Na semana passada, a Petrobrás assinou contrato com a Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás Butano para a venda da totalidade da distribuidora Liquigás, por R$ 3,7 bilhões. Em abril, a petroleira vendeu a TAG, operadora do gasoduto que interliga as regiões Sudeste e Nordeste do País, para a francesa Engie, por US$ 8,6 bilhões.

 

Também no primeiro semestre, a estatal levantou R$ 8,6 bilhões com a venda das ações da BR Distribuidora, reduzindo sua participação na distribuidora de combustíveis.

 

Com esses movimentos, a companhia espera reduzir sua dívida bruta de US$ 90 bilhões, do fim de setembro, para US$ 60 bilhões no ano que vem.

 

Para Luís Sales, analista da Guide Investimentos, o plano revela o foco da gestão na maximização de valor para os acionistas. A interpretação é que a empresa deu uma sinalização benéfica de que vai deixar para trás o que o mercado classifica de “destruição de valor”.

 

O plano estratégico divulgado ontem trouxe, pela primeira vez, uma agenda de descarbonização, com menos emissões e ganhos no processo produtivo. Mas postergou novamente a decisão de ingressar na geração de energia solar e eólica, indo na contramão do que estão fazendo outras gigantes do setor de petróleo.

 

Roberto Castello Branco, presidente da companhia, já havia antecipado a intenção de focar os esforços na exploração e produção de petróleo e gás, sobretudo nas bacias de Campos e Santos, em detrimento das demais áreas de negócio. O segmento vai ficar com a quase totalidade dos investimentos, ou 85% da previsão para os próximos cinco anos, o equivalente a US$ 64,3 bilhões.

 

Com a entrada em operação de 13 novas plataformas, a produção de petróleo e gás natural deve crescer em 200 mil barris de óleo equivalente por dia a cada ano, passando de 2,7 milhões em 2020 para 3,5 milhões barris por dia em 2024.

 

“O aumento da produção é muito tacanho. E isso só tem uma explicação: a taxa de declínio da Bacia de Campos é muito maior do que a anunciada de 10%. Não é compreensível que, com tanta produção de pré-sal, com tantas unidades de produção entrando, a curva de produção seja tão pequena”, avaliou o geólogo Pedro Zalán, da consultoria ZAG. (O Estado de S. Paulo/Fernanda Nunes e Mariana Durão)