O Estado de S. Paulo
O Brasil é um dos países com maior número de mortes no trânsito, de acordo com um estudo elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que analisou a segurança viária em diversas nações ao redor do mundo. Segundo a pesquisa, o País ocupa a quinta colocação no ranking, atrás apenas de Índia, China, Estados Unidos e Rússia. Para se ter ideia, foram registradas 34.326 mortes em colisões e atropelamentos no Brasil em 2017, segundo os dados mais recentes do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
O mais surpreendente é que esse resultado indica uma melhora, já que em 2011, o número de óbitos registrados nas ruas e estradas brasileiras foi 20,8% maior do que em 2017. Mesmo assim, o País está longe de alcançar a meta estabelecida pela OMS, que pretende reduzir a mortalidade no trânsito em 50% no período de 2011 a 2020, período chamado de “Década de Ação Para a Segurança no Trânsito”, no movimento criado pelas Nações Unidas para diminuir os acidentes de trânsito em todo o planeta.
Segurança no trânsito e a tecnologia dos automóveis foram o tema de um debate na TV Estadão no dia 11 de novembro, que reuniu José Aurélio Ramalho, diretor-presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), Angel Martinez, vice-presidente comercial da Hyundai Motor Brasil, e Rodolfo Stopa, gerente-geral de Planejamento de Produto, também da Hyundai Motor Brasil, além de Tião Oliveira, do Jornal do Carro, que mediou a conversa.
Se os resultados ainda não animam, a tecnologia pode ajudar a melhorar o cenário no País, já que os automóveis estão cada vez mais seguros, não só por conta da legislação, mas principalmente por iniciativa das próprias montadoras, como fez a Hyundai com a nova geração do compacto HB20, que acaba de ser lançada. Além de maior e mais confortável, as configurações hatch e sedã do modelo trazem – nas versões mais sofisticadas – o sistema de alerta e frenagem autônoma, recurso inédito no segmento.
Por meio de uma câmera de alta resolução instalada no para-brisa, o equipamento monitora a área frontal do veículo e se detectar outro veículo parado ou pedestre, emite um aviso sonoro. Se o motorista não tomar nenhuma medida corretiva, o sistema aciona os freios automaticamente. De acordo com a Hyundai, o carro para totalmente se estiver rodando a até 50 km/h, evitando o acidente. Se estiver entre 50 km/h e 60 km/h, a frenagem é suficiente para minimizar as consequências do choque.
Para José Aurélio Ramalho, do ONSV, o nível de segurança dos automóveis nacionais já está próximo do encontrado em países desenvolvidos. “Se analisarmos o tripé ‘via, veículo e pessoa’, os veículos são o aspecto no qual o Brasil mais evoluiu”, afirma. Em compensação, a formação dos condutores ainda deixa muito a desejar. “Nós somos adestrados a conseguir a carteira de habilitação, pois decoramos o significado das placas e pouco sabemos dos riscos que a condução de um automóvel traz”, acrescentou Ramalho.
O sistema de frenagem autônoma ainda está restrito às versões mais sofisticadas da nova geração do HB20, mas, de acordo com Rodolfo Stopa, da Hyundai, isso deve mudar em breve. “Essa é uma tecnologia inédita no segmento e, por isso, ela ainda é cara e fica difícil disponibilizá-la em todas as versões da gama, mas posso adiantar que, em breve, vamos permitir que mais clientes tenham acesso a esse e outros itens em outras versões do novo HB20”, garantiu.
José Aurélio Ramalho é contra leis que obriguem a instalação de equipamentos em veículos de maneira compulsória. “Esse tipo de medida sempre acaba prejudicando um dos lados”, explica. Para ele, a melhor solução é buscar o consenso entre as partes envolvidas. Foi o caso da introdução dos airbags e do sistema ABS, por exemplo, que começou de forma gradual a partir de 2010 até se tornar obrigatória para todos os carros em 2014. Para o diretor do ONSV, iniciativas como a da Hyundai representam o melhor caminho. “Uma montadora inova com a oferta de um equipamento de segurança para se destacar frente à concorrência e as demais passam a oferecê-lo em seguida, o que permite a popularização do item e a redução do seu custo”.
Angel Martinez, vice-presidente da Hyundai, fez uma observação importante: “O primeiro carro dos jovens de hoje será adquirido até a idade média de 28, 29 anos. As pessoas mais maduras acabam por preferir uma versão mais bem equipada e segura”. Para o executivo, as pessoas estão ficando mais conscientes com relação à segurança. “Graças também a ações promovidas por entidades como o ONSV, e as montadoras precisam continuar apoiando essas iniciativas”, disse.
Ramalho aproveitou o debate para lembrar a importância do recall, processo pelo qual as montadoras corrigem eventuais falhas de projeto e/ou construção de seus carros que podem provocar graves acidentes e até mortes. “O índice de atendimento ao recall no Brasil é muito baixo, entre 40% e 50%”, disse. Esse problema é tão grave que, segundo o diretor do ONSV, o Governo criou um mecanismo para que a partir do ano que vem, ninguém consiga transferir o veículo se não tiver atendido a um eventual recall. “É um crime alguém vender um carro sem ter atendido a um recall, porque a pessoa, a família que comprar esse automóvel não tem como saber dessa convocação, já que o comunicado foi para o dono anterior”, explicou. (O Estado de S. Paulo)