O Estado de S. Paulo
As questões climáticas deixaram de ser assunto apenas de interesse dos ecologistas. Têm a ver com custos econômicos e riscos financeiros. Terão impacto importante no caixa das empresas e no bolso das pessoas de todo o mundo.
É o que mostra o último número da publicação F&D: Finance and Developement, editada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), cuja capa leva o título The Economics of Climate (A Economia do Clima, em tradução livre).
Os especialistas Pierpaolo Grippa, Jochen Schmittmann e Felix Suntheim advertem que mudanças dramáticas já estão em curso, não apenas pelo aumento da ação de ciclones, furacões e prolongados períodos de estiagem, mas, também, porque os governos começam a exigir novos padrões de consumo de energia, que destroem ou convulsionam atividades produtivas ligadas aos combustíveis fósseis.
Bancos, seguradoras e o próprio FMI já avaliam a iminência de perdas de patrimônio e aumentos expressivos dos custos financeiros criados a partir de duas fontes. A primeira delas tem a ver com os danos físicos a propriedades, infraestrutura e terras. Imagine-se, por exemplo, o que pode acontecer com cidades inteiras construídas a altitudes próximas de zero, como Nova York, Rio de Janeiro e Buenos Aires, em que o nível do mar pode subir de 0,6 m a 1,1 m até 2100, como preveem as projeções da Organização das Nações Unidas – se nada de substancial for feito para reverter as ameaças. Remember Nova Orleans e os estragos do furacão Katrina em 2005.
Riscos desse tipo estão sendo incorporados aos prêmios das apólices de seguro. Grandes bancos vêm calculando riscos de inadimplência associada a perdas patrimoniais, especialmente nos créditos de mais longo prazo (hipotecas e empréstimos de capital). É item que passa também a ser quantificado por bancos centrais e instituições de supervisão bancária que poderá ser considerado nas políticas de juros, porque implicam perda potencial de produtividade do trabalho.
Outra fonte de prejuízos está relacionada a políticas públicas. Os governos da Europa, por exemplo, já estão exigindo a substituição de veículos movidos a combustíveis fósseis por veículos elétricos ou a combustíveis renováveis. Isso exige rápidas reciclagens das linhas de produção. Nem todas as empresas estão em condições de acompanhar o ritmo e por isso podem sofrer desvalorização das suas ações, com impacto sobre o patrimônio de fundos de pensão e fundos de investimento. E é preciso ver até que ponto empresas de petróleo serão atingidas por essa nova onda.
Será inescapável importante revisão nas políticas de subsídios. Artigo assinado pelo celebrado narrador da BBC David Attenborough e pela ex-presidente do FMI, hoje no comando do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, mostra que, em 2017, os subsídios implícitos globais ao consumo de energia e aos custos ambientais alcançaram a magnitude dos US$ 5,2 trilhões, ou 6,5% do PIB do planeta. É situação que terá de ser revertida se a decisão for o cumprimento das metas do Acordo de Paris.
Também será inevitável que os custos públicos da poluição ambiental, como deterioração da saúde pública e destruição da infraestrutura, sejam repassados para a sociedade. E isso vai pesar na conta bancária de qualquer um. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)