Prévia da inflação em 0,14% surpreende uso de capcidade instalada

O Estado de S. Paulo

 

Os transportes pressionaram a prévia da inflação oficial em novembro. Com combustíveis e passagens aéreas mais caros, o Índice de Preços Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) fechou o mês em 0,14%, informou ontem o IBGE. Apesar dessas altas, a taxa surpreendeu os analistas, que esperavam um avanço médio de 0,16%. Contrariando as expectativas, o índice foi o menor registrado em um mês de novembro desde 1998.

 

O IPCA-15 acumulado em 12 meses desceu a 2,67%, distanciando-se ainda mais da meta para o ano traçada pelo Banco Central, de 4,25%. Em 11 meses, a prévia da inflação do mês ficou em 2,83%.

 

O mercado contava com uma pressão maior dos alimentos, com a alta da carne, que ficou bem mais cara neste mês, mas não a ponto de anular a queda dos preços de alguns hortifrutigranjeiros. Neste mês, pela primeira vez desde agosto, os preços começaram a subir, só que levemente, 0,06%.

 

Ficou mais caro comer e tomar cerveja fora de casa. Em contrapartida, a alimentação em casa não subiu tanto quanto no mês anterior, passou de 0,38% para 0,03%. Os preços da cebola, tomate e batata-inglesa caíram.

 

“A alimentação, para a alegria de quem quer queda de juro, fechou novembro com alta de apenas 0,06% e mostra outros preços caindo”, diz o economista e professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Heron do Carmo. Para o economista, a inflação de 0,14% é favorável porque sinaliza para a possibilidade de o IPCA encerrar o ano em torno de 3%.

 

Nos transportes, que teve alta de 0,3% e representou a principal pressão no mês, foram destaque o etanol, que ficou 2,53% mais caro, e a gasolina, 0,8%. Já o óleo diesel subiu 0,58% e o gás natural veicular, 0,1%. Com menos peso no indicador, as passagens aéreas também apresentaram alta relevante, de 4,44%, após já ter subido 2,10% em outubro.

 

O grupo que mais segurou a prévia da inflação foi o de habitação, por conta da energia elétrica, que apresentou queda de 1,43%. Com exceção das regiões metropolitanas do Recife (0,14%) e de Salvador (2,52%), todas as áreas pesquisadas apresentaram retração dos preços da eletricidade.

 

Carne

 

O choque da carne bovina neste ano – o preço da arroba subiu mais de 20% só em novembro – deverá contribuir para levar alívio à inflação no ano que vem, disse Heron do Carmo. Isso, de acordo com ele, porque hoje os choques de preços não mais se incorporam às séries.

 

Antigamente, de acordo com o professor, os choques passavam a fazer parte das séries históricas e a inflação não voltava mais. “Ela subia uma escada”, diz Heron. Agora, continua o professor da FEA-USP, essa dinâmica mudou.

 

“Tivemos o choque da greve dos caminhoneiros no ano passado e voltou, tivemos o choque de tarifas e voltou. Por isso, esse choque da carne hoje pode ser algo que favoreça a inflação do ano que vem porque a carne não deve subir no ano que vem o que subiu neste ano, e isso alivia a inflação de 2020”, disse. (O Estado de S. Paulo/Fernanda Nunes e Francisco Carlos de Assi)