Acentuam-se as dificuldades das exportações

O Estado de S. Paulo

 

Outubro foi não apenas um mês insatisfatório para o comércio exterior do País, como expôs as dificuldades enfrentadas pelos exportadores. Evidência disso é que chegou a haver déficit na balança comercial (diferença entre exportações e importações) na terceira semana do mês.

 

O superávit comercial mensal atingiu US$ 1,2 bilhão e foi de US$ 34,8 bilhões nos primeiros dez meses de 2019, mas, aos poucos, perde importância para o financiamento do balanço de pagamentos. Entre janeiro e setembro de 2019, o déficit em transações correntes de US$ 34,1 bilhões quase dobrou em relação aos US$ 18,6 bilhões observados em igual período de 2018, influenciado pela balança comercial declinante.

 

A piora do comércio exterior se deve, em primeiro lugar, à fraqueza do comércio global de bens e mercadorias, que deverá crescer apenas 1,2% neste ano, calcula a Organização Mundial do Comércio. Isso significa uma quase estagnação, que decorre, entre outros fatores, dos conflitos entre os Estados Unidos e a China, do crescimento mais lento da economia global e da queda dos preços do petróleo.

 

Como grande exportador de commodities, o Brasil é muito afetado pelas oscilações de preço de produtos como a soja e o petróleo. Ademais, entre outubro de 2018 e outubro de 2019 as vendas de manufaturados caíram 26,5%. A média diária de exportações (melhor critério para medir a pujança das vendas ao exterior) foi de US$ 792,7 milhões em outubro, pior resultado do ano. O efeito sobre o superávit é agravado porque as importações estão quase estáveis.

 

Ante a perda de tração das exportações, cai a corrente de comércio (soma das exportações e das importações), exibindo a abertura insatisfatória da economia. Nos primeiros dez meses de 2019, a corrente de comércio atingiu US$ 336 bilhões, queda de 5% em relação a igual período do ano passado.

 

A fraqueza das exportações afeta a economia, dada a importância das vendas externas para a produção, o emprego e a renda. O Brasil tem dificuldade para superar os obstáculos globais ao comércio exterior, o que exigiria redução dos custos de exportação por meio de oferta de infraestrutura adequada, maior liberalização do comércio e avanços nas esferas tributária e aduaneira. A ênfase nas exportações, por seus benefícios, deveria ser um dos grandes objetivos nacionais. (O Estado de S. Paulo)