Jornal do Carro
A fusão entre a FCA e a PSA, anunciada nesta quinta-feira, 31 de outubro, representa uma sinergia nunca vista na indústria automotiva. A nova empresa controlará as marcas Fiat, Chrysler, Jeep, Dodge, RAM, Lancia, Maserati, Alfa Romeo, Peugeot, Citroën, DS, Opel e Vauxhall. As oito primeiras formavam a FCA, enquanto as cinco últimas faziam parte da PSA. A sede será na Holanda.
A nova empresa nasce como o quarto maior grupo automotivo do mundo em vendas de automóveis. O ranking é liderado pelo Grupo Volkswagen. Na sequência vêm a aliança entre Renault, Nissan e Mitsubishi e depois a Toyota. Juntas, as marcas vendem 8,7 milhões de veículos por ano.
De acordo com o comunicado conjunto divulgado pelos dois grupos empresariais, a expectativa é a de que haja maior volume de dinheiro para investimento em novas plataformas de veículos, motores e transmissões e novas tecnologias.
O mesmo comunicado projeta que 80% das sinergias seriam alcançadas após quatro anos. A principal razão da união deve-se à necessidade de se fazer pesados investimentos em tecnologias relacionadas a carros elétricos, autônomos e conectados. Isoladamente, seria um investimento pesado demais tanto para a FCA como para a PSA.
“Gastar dinheiro ao mesmo tempo em carros antigos (que já estão no mercado) e (no desenvolvimento de) novos é uma brincadeira cara”, diz o consultor da AT Kearney David Wong. A união serve para que as marcas consigam redução de preços com o ganho de escala.
Marcas deverão intensificar intercâmbio de tecnologia
E o que o comprador de carros ganha com isso? Em um primeiro momento, as fabricantes podem aproveitar o que cada marca tem de melhor e replicar nas outras. Tomemos um exemplo: em 2017, o Peugeot 3008 conquistou o título de Carro do Ano na Europa. É uma chancela importante, e para obter tal prêmio o SUV francês teve de superar diversos automóveis, incluindo alemães das marcas premium.
Porém, ainda assim, tanto o 3008 como o 5008 são sucesso de vendas basicamente na França. Da mesma forma, a Fiat vende bem na Itália (que não está entre os maiores mercados europeus) e no Brasil. O pulo do gato seria utilizar os pontos fortes do Peugeot 3008 (para mantermos o mesmo exemplo) em um Jeep Renegade, por exemplo.
Novidades “atrás do painel”
De acordo com o presidente da consultoria Jato do Brasil, Vitor Klizas, a curto prazo deverá ocorrer uma troca de tecnologias, que o consumidor nem irá notar. “As novidades estarão atrás do painel, no lugar onde não se vê”, diz. Ele se refere a áreas como infotainment (informação e entretenimento). “Nesse ponto, a PSA está bem mais avançada que a FCA”, afirma.
O acordo poderá permitir que os carros da Fiat tenham acesso à moderna plataforma modular CMP do grupo PSA. Essa plataforma, lançada este ano, está pronta para veículos elétricos. É empregada pelo novo Peugeot 208, que oferece na Europa uma versão elétrica, o e-208.
Com o aumento de escala, Klizas prevê a possibilidade de oferecer mais tecnologia por um custo mais acessível ao comprador final.
Só em um segundo momento o presidente da Jato diz que poderá haver intercâmbio de conjuntos mecânicos. Nesse caso, um sistema mais evoluído poderia ser utilizado por outras marcas do grupo. Isso evitaria o gasto isolado de uma determinada marca para uso individual.
Um exemplo: o Jeep Renegade tem motor 1.8 flexível que não está à altura da robusta plataforma do modelo. O motor 1.6 turbo de origem PSA poderia dar mais agilidade ao Jeep.
Além disso, o motor 1.2 turbo PureTech da PSA poderia ser uma opção aos modelos compactos da Fiat, por exemplo.
Elétricos e autônomos
A médio prazo, a comunicação de sistemas tende a ser ainda mais simples. Os mesmos motores elétricos podem ser utilizados para movimentar diversos tipos de automóveis. Isso porque eles são menos complexos do que os propulsores a combustão interna. Klizas, porém, ressalta que isso irá depender da opção de utilização. “Há veículos que utilizam um motor, outros com dois, e ainda outros com um para cada roda.”
Da mesma forma, desenvolver conjuntamente a tecnologia de condução autônoma tende a diluir custos entre as marcas, o que seria praticamente impossível sem a união.
Quanto às fábricas, o comunicado afirma que não há planos de fechamento de nenhuma planta. Isso abre a possibilidade de utilização de unidades que tenham capacidade ociosa (como a de Resende, no Rio, da PSA) por outra que esteja que esteja com o volume completo (como a da FCA em Goiana, em Pernambuco). (Jornal do Carro)