Fusão de Fiat e PSA cria quarta maior montadora

O Estado de S. Paulo

 

A nova companhia que deve nascer da fusão entre o grupo ítalo-americano FCA Fiat Chrysler e o francês PSA Peugeot Citroën, confirmada ontem, criará o quarto maior grupo automobilístico do mundo, com vendas de 8,7 milhões de veículos no ano passado, e o maior no Brasil, com 476,7 mil unidades.

 

O negócio ainda passará por trâmites burocráticos, mas o anúncio de que ambas aceitam a união integral, cada uma com 50% das ações, vai consolidar o surgimento de mais uma gigante no setor, atrás de Volkswagen (com 10,8 milhões de carros vendidos), Toyota (10,5 milhões) e Renault-Nissan (10,3 milhões)

 

O novo grupo desbanca a General Motors, que cai para a quinta posição, com vendas de 8,4 milhões de veículos em 2018. No Brasil, onde vendeu 434,7 mil veículos, a GM perderia a liderança do mercado se fosse considerada a soma das vendas das quatro marcas dos grupos FCA e Peugeot, de 476,6 mil unidades, mas tradicionalmente no País o ranking considera marcas isoladas.

 

No início do ano, a FCA tentou uma aliança com a também francesa Renault, mas o negócio não deu certo. O grupo, aliás, buscava uma parceria há alguns anos ciente de que o processo de transformação da indústria automotiva global, com foco em conectividade, carros eletrificados e, futuramente, autônomos, exige mais investimentos, maior eficiência, maior escala e redução de custos para ser sustentável.

 

“Um dos grandes benefícios da fusão será a consolidação de várias atividades como financeira, de contabilidade, recursos humanos e principalmente de compras”, avalia Paulo Cardamone, presidente da Bright Consulting.

 

As duas companhias calculam em ¤ 3,7 bilhões a economia anual com sinergias e afirmam que não está previsto fechamento de fábricas. A receita combinada deve somar cerca de ¤ 170 bilhões ao ano, com lucro operacional recorrente de mais de ¤ 11 bilhões.

 

Segundo o diretor da KPMG, Ricardo Bacellar, ambas ocupam hoje posições intermediárias no mercado, mas “a fusão dará mais musculação para investimentos necessários para um novo ciclo de inovação e maior eficiência operacional”.

 

Ele acredita que o movimento de FCA e PSA poderá incentivar outras junções, principalmente de marcas que ficarão mais vulneráveis diante do fortalecimento do novo grupo.

 

Ajuda mútua

 

No jogo global, a FCA pode ajudar a PSA a se posicionar no mercado americano – onde a Chrysler tem importante participação –, e também no Brasil, onde a parceira patina no mercado, embora venha mostrando reação neste ano. Já o grupo francês, segundo maior fabricante de veículos na Europa, poderá compartilhar linha de produtos, motores e desenvolvimento de veículos elétricos.

 

Uma ressalva, na opinião de Cardamone, é que nenhum dos grupos têm presença na China, o maior mercado global.

 

O comando da nova empresa, com sede na Holanda, ficará com o português Carlos Tavares, presidente mundial da PSA. É ele o responsável pelo programa de recuperação da empresa, que quase foi à falência em 2012. Também pela compra, em 2017, da Opel, então braço europeu da GM. O italiano John Elkann, da Fiat, presidirá o conselho.

 

Na avaliação de analistas, a junção da FCA – dona das marcas Alfa Romeo, Chrysler, Dodge, Jeep, Lancia, Maserati e RAM – e da PSA – que tem sob seu guarda-chuva Peugeot, Citroën, DS, Opel e Vauxhall – não deve gerar conflitos na atuação de ambas no Brasil por causa da pouca sobreposição entre seus produtos e também pela diferença de participação de mercado: a Fiat, sozinha, detém 13,7% das vendas, enquanto Peugeot e Citroën têm menos de 2%. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)