O Estado de S. Paulo
Em evento em que carros elétricos são a principal atração, a Nissan anunciou ontem, em Tóquio, no Japão, que um projeto iniciado no Brasil pode ser uma nova alternativa global para o futuro dos chamados carros verdes. O uso do etanol de segunda geração para produzir a energia de veículos movidos a célula de combustível já é visto como “comercialmente viável” pelo presidente da Nissan do Brasil, Marco Silva, embora ainda sejam necessários vários testes para confirmar sua viabilidade.
Em parceria com universidades brasileiras e engenheiros da empresa no Brasil, Estados Unidos, China e Japão, a Nissan descobriu que pode usar o etanol extraído de cana geneticamente modificada para gerar o hidrogênio da célula de combustível. “Com isso, podemos reduzir o tamanho da bateria e aumentar sua eficiência, dispensar o reformador (equipamento que provoca a reação química necessária para gerar eletricidade) e, assim, reduzir custos”, diz.
A empresa iniciou em 2016 os estudos no Brasil para usar o etanol nas células de combustível, tecnologia que praticamente elimina toda a emissão de poluentes. Agora, em sua segunda fase de testes em conjunto com a Universidade de Campinas (Unicamp) e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), ligado à USP, o projeto começa a se mostrar viável comercialmente e, segundo Silva, poderá ser adotado de forma global. “Não é um projeto só do Brasil.”
Os testes até agora foram feitos em uma van da Nissan, a NV200, e o próximo passo será em automóveis, informa Motohisa Kanijo, engenheiro que lidera o projeto. “Acredito que esta seria a melhor solução econômica (para o carro a célula de combustível)”.
Segundo ele, serão necessários mais cinco anos de estudos para chegar ao ponto de teste da tecnologia em automóveis. A solução, além de mais barata, dispensaria a necessidade de infraestrutura de abastecimento de hidrogênio em postos, pois todo o processo de geração de energia ocorreria dentro da célula de combustível.
Como os projetos da indústria automobilística para reduzir emissões de poluentes envolvem diferentes tipos de tecnologias, a Nissan apresenta no Salão do Automóvel de Tóquio o protótipo Ariya, o primeiro utilitário esportivo (SUV) elétrico da marca que em breve chegará ao mercado.
A Honda também mostra seu primeiro automóvel 100% elétrico, o Honda-e, que será produzido no Japão a partir de 2020, assim como scooters também movidas a eletricidade.
Economia
Outra novidade da Honda é a nova geração do Fit, que chega ao Japão em versões híbrida e a gasolina. O Fit é o único modelo da mostra que virá para o Brasil, em data ainda não revelada. “Isso ocorrerá no momento certo”, limita-se a dizer o presidente mundial do grupo, Takahiro Hachigo. As apostas são de que o novo modelo chegue ao País em 2021, na versão flex.
O executivo afirma ser “uma preocupação” para o grupo o fato de a economia brasileira não estar crescendo. Por outro lado, ele espera que a melhora nas vendas de automóveis “continue por um longo tempo”.
Tradicionalmente, um evento para mostrar tecnologias futuristas, o salão de Tóquio deste ano está mais voltado às tecnologias de combustíveis limpos e a maioria dos expositores apresenta produtos nessa linha, seja carro elétrico, híbrido e a célula de combustível.
Veículos autônomos, vedetes do salão anterior, em 2017, estão nos estandes, mas sem o mesmo destaque dos elétricos. “Os autônomos começarão a chegar para usos específicos, mas ainda estão longe do dia a dia do consumidor, enquanto os elétricos já são uma realidade”, justifica Silva. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva, jornalista viajou a Tóquio a convite da Anfavea)