Consequências da produtividade estagnada

O Estado de S. Paulo

 

O aumento da competitividade da indústria brasileira em 2018 não é motivo de comemoração para as empresas e é uma notícia ruim para os trabalhadores. Não se deveu à melhora da produtividade do trabalho – com o aumento da produção maior do que o do número de empregados ou de horas trabalhadas –, mas à redução dos salários. O Custo Unitário do Trabalho, aferido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu 16,1% no ano passado, com mostrou o Estado. Esse índice mede quanto a mão de obra pesa no custo final de um bem industrial; por isso, é importante fator de competitividade.

 

Ficou mais barato produzir, mas o salário do trabalhador encolheu (a redução média foi de 6,6%), o que impõe restrições à demanda. Quanto à produtividade, que vinha subindo nos últimos anos, ficou praticamente estagnada no ano passado (aumento de apenas 0,8% em relação a 2017).

 

O que as empresas podiam fazer para aumentar a eficiência com baixo custo em tempo de estagnação já foi feito, como mostra a queda do peso da folha de pessoal no custo final. Novos ganhos dependem de aumento da produtividade. Para isso, “precisamos investir em máquinas, em equipamentos”, disse a economista Samantha Cunha, responsável pelo estudo da CNI. Mas o cenário econômico ainda está complicado para que as empresas industriais tomem esse tipo de decisão.

 

A conjuntura desfavorável é um complicador que se acrescenta a outro, de natureza estrutural e que se tornou crônico no setor produtivo brasileiro. A produtividade, em particular da indústria, está estagnada. “O gráfico da produtividade é uma reta horizontal”, observou o economista do trabalho José Pastore, professor da Universidade de São Paulo. “É um eletrocardiograma de um morto”, disse Pastore.

 

É a consequência previsível de um conjunto de deficiências que tornam o setor produtivo brasileiro defasado em relação ao de outros países. Má qualidade da educação básica, falta de escolas de formação de profissionais cada vez mais demandados pelas novas tecnologias, o atraso na adoção dessas tecnologias e a má qualidade da administração são alguns dos componentes desse conjunto. Em alguns setores da indústria, o País está 10 ou 20 anos atrasado em termos de tecnologia. Há muito a ser feito – e tudo precisa ser feito com presteza e competência. (O Estado de S. Paulo)