O Estado de S. Paulo
As petroleiras multinacionais dominaram o leilão de petróleo e gás realizado ontem pelo governo. Ao todo, a União arrecadou R$ 8,915 bilhões, com ágio de 322,74%, na 16.ª Rodada de Licitações. Mesmo com a oferta apenas de blocos fora da cobiçada área do pré-sal, empresas do porte da Chevron, ExxonMobil, Total e Shell tiveram participação agressiva, tanto no valor dos lances como no número de blocos arrematados.
O Brasil foi representado exclusivamente pela Petrobrás, que, ao contrário de outras licitações, teve uma postura tímida. Disputou somente dois blocos e levou um. Partiu da estreante Petronas, da Malásia, o maior bônus pago por uma empresa, de R$ 1,94 bilhão. O ágio de 322,74% foi um recorde em leilões de pós-sal, mesmo tendo sido vendidas apenas um terço das áreas ofertadas.
O maior lance por uma área foi dado pelo consórcio liderado pela empresa francesa Total, de R$ 4,029 bilhões, que tirou a estatal brasileira do páreo, na disputa por uma região da Bacia de Campos.
“O bônus total superou todas as nossas expectativas. Os recursos irão para o Tesouro Nacional e serão aplicados dentro da política pública, inclusive no setor de meio ambiente”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Nesse modelo de licitação, sai vencedor quem apresentar o maior bônus, uma taxa paga pelas companhias na assinatura dos contratos de concessão, o que acontece tradicionalmente no fim do ano.
O diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone, contou que chegou a pensar em desistir da 16.ª Rodada, temendo que fosse um fracasso frente aos dois leilões que vêm pela frente, de áreas do pré-sal. “Mas mantê-la se mostrou acertado”, disse.
Apenas em royalties e participação especial, que incide sobre os campos de grande dimensão, a licitação vai gerar cerca de R$ 100 bilhões aos cofres dos governos, principalmente, do Estado do Rio de Janeiro e municípios do Norte Fluminense.
Esse dinheiro só vai entrar nos caixas no prazo de cinco a sete anos, quando vão começar a ser extraídos os primeiros óleos dessa leva de áreas arrematadas. Dos 11 blocos licitados na bacia de Santos, na região de São Paulo, apenas dois saíram, enquanto nenhum dos campos do Nordeste foi vendido.
Atração
O litoral fluminense continua a atrair investimento, ainda que muito dos seus campos estejam em fase de declínio. “A Total tem o prazer de ampliar sua presença na Bacia de Campos ao lado de dois parceiros estratégicos (Petronas, da Malásia, e QPI, do Quatar). Isso se encaixa em nossa estratégia de desenvolver a operação em águas profundas no Brasil”, disse o presidente da petroleira francesa, Patrick Pouyanné, acrescentando que a empresa vai participar do megaleilão do pré-sal marcado para o dia 6 de novembro.
A anglo-holandesa Shell disse que as atividades de exploração e desenvolvimento no Brasil têm se mostrado promissoras. E a norte-americana Chevron disse que o pré-sal e o póssal no País “são dois recursos de classe mundial”. A empresa se destacou por ter levado o maior número de áreas no leilão, cinco das 36 ofertadas, todas em parceria. Mas ficou em sétima posição num ranking das que pagaram os bônus mais altos, num total de 10 companhias vencedoras. A soma dos lances da petroleira norte-americana foi de R$ 480 milhões.
O destaque em desembolso foi da Petronas, que chegou a levar duas áreas sozinha. “A entrada de novos atores, como a Petronas, demonstra que o ambiente no Brasil está atrativo”, avaliou Antônio Guimarães, secretário executivo de Petróleo e Gás do IBP, representante das grandes petroleiras.
Petrobrás A Petrobrás apostou alto num único bloco na Bacia de Campos, R$ 1,43 bilhão. Junto com a sócia BP, apresentou oferta de R$ 2,045 bilhões pela área. “Os blocos exploratórios desta região da Bacia de Campos têm sido objeto de interesse e elevada disputa nas rodadas de licitação da ANP realizadas em 2017 e 2018”, informou a estatal em fato relevante.
“A Petrobrás tem capacidade limitada de investimento e já deixou claro que vai se reerguer no pré-sal”, disse o sócio da área de óleo e gás do escritório de advocacia Vieira Rezende, Carlos Maurício Ribeiro. (O Estado de S. Paulo/Fernanda Nunes e Denise Luna)