Indústria automobilística: a confiança voltou

O Estado de S. Paulo

 

Entre a eleição e a posse como governador, recebi notícias pouco animadoras sobre a indústria automotiva em São Paulo e no Brasil. Duas grandes montadoras tinham planos de deixar o País, investimentos estavam suspensos e demissões comprometeriam 25 mil empregos. Com 29 unidades industriais, São Paulo responde por 43% das fábricas e 46% do total de veículos produzidos no Brasil.

 

O setor representa 22% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial do País. Sua produção está diretamente relacionada a segmentos igualmente importantes, como aço, borracha, vidro, plástico e eletrônicos. Se a indústria automobilística de São Paulo desacelerar, trabalhadores do Brasil inteiro serão prejudicados. Dela dependem milhões de empregos em concessionárias, fabricantes de peças, oficinas, seguradoras, distribuição de combustíveis, transporte de mercadorias, pesquisa e desenvolvimento.

 

Com apenas 60 dias de governo, pusemos em prática um plano que mudou radicalmente o panorama da indústria de veículos: o IncentivAuto. A política industrial de São Paulo foi o gatilho de que montadoras precisavam para voltar a acreditar no mercado nacional. O Brasil estava ameaçado de exclusão da cadeia produtiva global, mas voltou a ser estratégico para novos negócios. E os resultados dessa guinada foram rápidos.

 

O primeiro e maior investimento foi da GM, que desistiu de deixar o País a partir do trabalho desenvolvido em São Paulo. Anunciou investimentos de R$ 10 bilhões até 2024 e mais de 1,2 mil novos empregos. Em setembro, estive no Japão, onde a Toyota confirmou investimento de R$ 1 bilhão, em 2020, num novo modelo global de automóvel. Serão 300 novos empregos diretos na fábrica de Sorocaba e outros 3 mil indiretos. A Toyota lançou o primeiro carro triflex do mundo, movido a etanol, gasolina e eletricidade. Ele chega ao mercado em outubro graças a uma combinação de duas especialidades de São Paulo: o motor híbrido, desenvolvido por engenheiros brasileiros e japoneses, e a produção de etanol.

 

Em agosto, fui à sede da Volkswagen, na Alemanha, para o anúncio de investimento de R$ 2,4 bilhões na fábrica de São Bernardo do Campo, que vai produzir o primeiro carro para o mercado mundial a partir de um projeto exclusivamente brasileiro. São 1,5 mil novos empregos diretos. Na viagem a Londres, em julho, a JCB, que fabrica retroescavadeiras e máquinas para a construção pesada, anunciou investimento de R$ 100 milhões na planta de Sorocaba, com 100 postos de trabalho. A Scania vai promover, a partir da fábrica de São Bernardo, a maior mudança produtiva da sua história para lançar uma nova geração de caminhões na América Latina. Investimento de R$ 1,4 bilhão, com 40 novas vagas.

 

Das 15 montadoras instaladas em São Paulo, 6 anunciaram novos investimentos. A Caoa deve concluir com sucesso sua negociação com a Ford para preservar empregos e retomar a produção de caminhões em São Bernardo.

 

Após seis meses do IncentivAuto, podemos contabilizar 71 mil novos postos de trabalho, diretos e indiretos, que foram criados ou garantidos pelo programa. Entre eles, há 400 empregos da nova fábrica da Honda em Itirapina. Ela estava fechada, sem nada produzir, desde que ficou pronta, em 2016. Agora, deve chegar a 2021 em operação total, com 2 mil trabalhadores. Com o mercado mais agressivo, até montadoras que não aderiram ao IncentivAuto realizam investimentos.

 

Ações de políticas públicas, diálogo e visão de médio e longo prazos, confiança nas relações governo-indústria, regras seguras e marcos jurídicos claros. O governo de São Paulo faz sua parte para criar, proteger e garantir empregos. E acredita e apoia a livre-iniciativa. (O Estado de S. Paulo/João Doria, governador do Estado de São Paulo)