O Estado de S. Paulo
Com a tecnologia por trás dos veículos autônomos avançando rapidamente mundo afora, estamos chegando perto de uma época em que nossas cidades serão diferentes. No futuro, as ruas dos grandes centros metropolitanos contarão com veículos inteligentes e sem motoristas, que, inclusive, poderão realizar entregas automatizadas. O calvário atual de se estacionar poderá ser uma tarefa totalmente evitada pelos humanos, que entregarão a responsabilidade à Inteligência Artificial (IA).
Mas como podemos garantir que esse futuro traga realmente uma melhoria e resolva os problemas de transporte, uma vez que a mera presença de carros sem motoristas não reduzirá o congestionamento e o tempo de viagem? Pela primeira vez em décadas e em muitos lugares do mundo, a questão da mobilidade urbana está seriamente sendo discutida e tratada, o que significa que teremos a chance de repensar o funcionamento de nossas cidades e como as pessoas podem se locomover.
Se hoje as cidades são projetadas em torno do nosso atual modelo de transporte, a maneira como planejamos os ambientes urbanos precisará ser reconsiderada, acompanhando os avanços em soluções inovadoras de mobilidade urbana.
Por essa razão, mentes criativas ao redor do mundo – desde dentro de entidades governamentais até empresas dos segmentos imobiliário e automotivo – já estão imaginando as cidades reinventadas como metrópoles habitáveis, desenvolvidas e altamente eficientes.
Uma dessas propostas é a “Loop NYC”, um conceito que prevê tráfego de veículos sem motorista restrito a um circuito de vias arteriais para movimentação rápida pela cidade de Nova York, com pedestres e ciclistas livres para atravessar espaços entre blocos sem o risco de colisões.
Para a Lyft, companhia de que explora serviços de transporte compartilhado nos EUA, as vias existentes podem acomodar mais pessoas e movêlas com mais eficiência ao permitir que pedestres, ciclistas, veículos compartilhados e transporte público autônomo compartilhem as mesmas vias.
Algo que essas duas ideias têm em comum é que elas se afastam definitivamente da priorização de veículos privados sobre o transporte compartilhado, que dominam o planejamento urbano desde a segunda metade do século XX, para se concentrarem nas reais necessidades de mobilidade das pessoas.
Mesmo no Brasil, onde o tema da mobilidade urbana sempre foi relegado a um segundo plano pelas entidades governamentais, temos algumas iniciativas “caseiras” sendo implementadas nos grandes centros urbanos. Um exemplo clássico disso é o sistema Bus Rapid Transit (BRT), que foi implantado em Curitiba na década de 1970. O sistema consiste em oferecer transporte coletivo de passageiros com mobilidade urbana rápida, confortável, segura e eficiente por meio de infraestrutura separada dos demais sistemas viários. Os ônibus ganham prioridade de ultrapassagem. Hoje, há mais de 101 projetos como esse no país.
Recentemente, seguindo uma tendência mundial, empresas de compartilhamento de veículos alternativos, como bicicletas e patinetes elétricos, começam a disputar a preferência dos cidadãos que vivem nas grandes metrópoles e que precisam se locomover poucos quilômetros por dia.
Esses exemplos mostram, de maneira prática, que as soluções de mobilidade inteligentes podem restaurar a qualidade de vida de nossas cidades ao trazerem respostas concretas aos problemas atuais. O desafio agora é considerar a melhor maneira de aproveitar e coordenar a multiplicidade de inovações em mobilidade que entraram em cena nos últimos anos para garantir que os objetivos individuais dos cidadãos e da sociedade sejam atingidos, Jean Silva é Head of Business LATAM da HERE Technologies. (O Estado de S. Paulo)