Acordo entre Mercosul e UE vai expor ineficiência na indústria automotiva

DCI Online

 

Em vias de retomar o ritmo de vendas no mercado nacional, a indústria automotiva brasileira lida com outra incerteza: acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Com aliança ganhando contorno, o “pisca alerta” do setor se acende frente a possível invasão de itens europeus.

 

“Para o setor automotivo brasileiro esse acordo pode ter impactos negativos. No médio prazo, existe uma grande necessidade de revisar a carga de tributos que as indústrias pagam atualmente e melhorar os níveis de eficiência produtiva de veículos de todos os segmentos”, argumentou o sócio-diretor da consultoria MacroSector, Fabio Silveira.

 

De acordo com ele, a falta de competitividade da indústria brasileira tende a prejudicar o nível de equilíbrio entre os produtos europeus e brasileiros a partir do momento em que o acordo passar a vigorar realmente entre os dois blocos. “A perspectiva que temos no horizonte é de uma entrada gradual de produtos e veículos da Europa, que tem uma capacidade produtiva e eficiência muito superior em relação à cadeia produtiva brasileira”, complementou Silveira, destacando que outros importantes segmentos ligados a cadeia automotiva, como por exemplo autopeças e petroquímico, devem ser impactados negativamente com os parâmetros atuais do acordo negociado.

 

Momento atual

 

Se o futuro é incerto, o momento atual começou agora a melhorar. Segundo uma análise realizada pela consultoria, nos próximos meses, espera-se que o setor apresente algumas evoluções em termos de produção, chegando a 2,94 milhões de veículos fabricados em 2019 – alta 2% sobre o registrado em 2018.

 

Ainda segundo o levantamento, esse leve avanço é reflexo de melhores condições de crédito no mercado doméstico, principalmente por melhores condições para compra de veículos semi-pesados e pesados. A expectativa é que a as vendas de caminhões subam 7% durante todo o ano de 2019 – o equivalente a 113 mil unidades no território nacional.

 

Com previsão de desempenho negativo, a fabricação de tratores deve amargar para o mesmo período analisado queda de 16% (-42 mil máquinas). “Temos um enorme desafio pela frente na indústria como um todo inclusive das vendas externas”, disse Silveira.

 

Para exportação o principal problema é a crise econômica na Argentina. Para ele, será uma tarefa difícil para o Brasil encontrar outro comprador equivalente. “A economia argentina em crise foi a principal responsável pela retração grande das exportações de veículos brasileiros. Dificilmente vamos conquistar novos mercados externos de uma hora para outra”, explicou ele.

 

De acordo com os números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a expectativa é que as exportações de veículos brasileiros apresentam retração na casa dos 26% em relação a 2018. (DCI Online/João Vicente Ribeiro)