DCI
Com retração de 0,1% no volume de vendas em maio sobre o mês anterior, o setor do varejo ainda demonstra fragilidade para andar com as próprias pernas. Para o segundo semestre, a esperança dos lojistas se apoia em incentivos pontuais de liberação de crédito para o consumidor e dólar baixo.
Diante desse cenário soma-se a estagnação que o setor vem apresentando desde janeiro e, consequentemente, os efeitos da demanda fraca que algumas atividades enfrentaram nos últimos meses.
“O desempenho que o varejo como um todo vem registrando desde o início do primeiro trimestre é preocupante. Os resultados também caminham em paralelo ao índice de deflação que segmentos como vestuário e varejo alimentar obtiveram: uma queda de preços de 0,56%, a maior desde maio de 2002”, argumentou o economista-chefe da Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes.
Para ele, a redução dos preços desses segmentos é um indício “nítido” de que a demanda continua fraca tanto na categoria de produtos duráveis como também não duráveis. “Quando analisamos o segmento de produtos que dependem diretamente de renda e crédito a notícia também não é boa, como por exemplo na venda de automóveis, peças automotivas e material de construção”, complementou Bentes.
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em maio sobre abril, a retração na venda de automóveis foi de 2,1%. O mesmo ocorreu na categoria de material de construção, com queda de 1,8%. Ainda segundo o levantamento, no varejo restrito, houve tombos na venda de segmentos como combustíveis e lubrificantes (-0,8%) e artigos de uso pessoal e doméstico (-1,4%).
Nessa perspectiva, para o economista da CNC, o segundo semestre deve apresentar um ritmo de vendas mais “forte”, especialmente por meio de incentivos governamentais ao consumo. “A liberação de recursos de contas ativas do FGTS [Fundo de Garantia por Tempo de Serviço] compõe algumas das medidas que já estão engatilhadas pelo governo federal para estimular o setor, embora o efeito disso seja sentido apenas no curto prazo, como ocorreu também em tentativas de ‘empurrão’ nos últimos anos”, disse Bentes.
No mesmo sentido, ele lembrou que um câmbio possivelmente mais baixo nos próximos meses deve facilitar a vida dos lojistas que estão começando a se organizar para as vendas do final do ano.
“À medida que o segundo semestre concentra uma grande quantidade de datas comemorativas importantes para o comércio com apelo à importação, a moeda americana menos valorizada deve ajudar no movimento de composição de estoque de lojistas ligados à categoria deste tipo”, complementou ele.
Por fim, Bentes destaca que o crescimento do setor como um todo no ano de 2019 deve ficar mais próximo do obtido em 2017 (4%) do que em 2018 (5%). “Já revisamos de 4,5% para 4,2% a perspectiva de alta”, concluiu.
Com perspectiva similar, o coordenador da sondagem do comércio do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), Rodolpho Tobler, afirma que o movimento de retomada das vendas deve partir justamente de segmentos de necessidade básica, como por exemplo o varejo alimentar e farmacêutico. “Com cerca de 13 milhões de desempregados no País, os gatos essenciais devem estar concentrados nessas categorias de produtos. Dependendo de como a demanda dessas áreas caminhar, haverá maior chance de investimento por parte dos empresários, como por exemplo contratação de funcionários”, disse Tobler.
Ainda de acordo com o especialista, a situação do setor está “complicada”, pois a massa salarial dos brasileiros já vem demonstrando de que está comprometida e restrita há algum tempo. “Atualmente, o cenário é de estagnação. No entanto, o progresso das reformas no Congresso pode estimular de certa forma o processo de investimento e incremento no volume de vendas do varejo entre o final de 2019 e o começo do ano que vem”, disse Tobler. (DCI)